O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

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As semanas seguintes voaram numa vertigem sexual que, não podendo
durar para sempre, trazia Regina como que cativa daquele homem enigmático
que a enfeitiçava com os seus olhos azuis húmidos de cão sem dono, carente
do seu amor. Embora ele não tivesse nada para lhe dar, nada de substancial
para partilhar com ela, era como se o tivesse adoptado e, tomando essa
responsabilidade, já não pudesse voltar atrás. Nuno estava sozinho no mundo,
sem família, sem verdadeiros amigos, sem amarras. Parecia conhecer toda a
gente, mas não se prendia a ninguém. Não tinha um emprego que se visse e
não falava dos seus negócios invisíveis. Vivia com pouco, nem conta bancária
tinha, mas era como se o dinheiro lhe nascesse dos bolsos, donde tirava
sempre um monte de notas amarrotadas, pois não usava carteira nem fazia
contas a nada. Regina não sentia necessidade de lhe fazer perguntas, bastava-
lhe olhá-lo nos seus olhos transparentes e ficava tranquila com a ideia clara de
que não havia nada a esconder, de que a existência dele se resumia ao que
estava à vista, que andara sempre por ali, exactamente como agora,
simplesmente não se dera o caso de se cruzarem mais cedo. Era uma situação
estranha mas, simultaneamente, reconfortante, na medida em que Nuno
também não a questionava nem a pressionava com coisa nenhuma, não queria
saber da sua total falta de ambição profissional ou do seu fraco empenho em
fazer algo de válido, senão pela sociedade, pelo menos por ela própria. Para
Nuno estava sempre tudo bem, a vida era para se ir vivendo não era para uma
pessoa se afundar em dúvidas e angústias. E depois havia aquela dependência
sexual, aquela excitação permanente, aquela vontade insaciável de estar nos
braços dele, um desejo irreprimível de ir ao seu encontro todos os dias, de
dormir com ele todas as noites. Nuno satisfazia-a na cama e assim oferecia-
lhe a felicidade plena. Era pouco, mas bastava.


Mas então, quando tudo parecia perfeito, Nuno voltou-se para ela com a
maior das naturalidades e, com a mesma casualidade com que acendeu um
cigarro, virou-lhe outra vez a vida do avesso.


Não seria ainda meio-dia, Nuno saíra da cama e fora subir o estore da janela
para deixar um sol inspirador romper a penumbra que envolvia o quarto. Ali
de pé, nu à frente da janela do seu segundo andar com vista para a avenida,
espreguiçou-se lentamente, com a indolência de um gato ocioso. Depois
voltou para a cama, enfiou-se debaixo dos lençóis e descobriu Regina também
nua e, rindo-se dos protestos alegres dela, montou-a e penetrou-a

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