— Não sei, mas se calhar...
— Sabes quantas pessoas morreram lá? Muitas, Nuno, morreram muitas
pessoas. Uma delas morreu com a cabeça dentro do meu carro, e tu dizes que
eu estou nervosa? Podes crer que estou nervosa! — Nuno tentou abraçá-la,
mas Regina enxotou-o, furiosa.
— Não me venhas com falinhas mansas — advertiu-o com um dedo
indicador em riste. — Nuno, estamos a falar da segurança do André. Será que
eu sou a única pessoa responsável nesta sala?
Nuno recuou. Foi sentar-se a fumar o seu cigarro. A conversa dava para o
torto, acendia um cigarro para ganhar tempo, para pensar em algo inteligente
para dizer. Mas, neste caso, era bastante óbvio que não seria capaz de a
demover. Regina não estava pelos ajustes. Era como ela dissera, quase
morrera e sentia-se nervosa, ele achava-a em pânico. O melhor a fazer nestas
circunstâncias, ponderou, era apaziguar o ambiente e não insistir numa
batalha perdida. De qualquer modo, não lhe custava admitir que Regina tinha
razão, aquela cidade já não era segura e seria melhor ela ir-se embora com
André. Nuno ia partir numa última missão arriscada e ficaria mais descansado
se os soubesse a salvo em Lisboa. Acendeu o cigarro, pousou o isqueiro em
cima do maço de tabaco, na mesa baixa em frente ao sofá. Inclinou-se para a
frente, com os cotovelos apoiados nas pernas, levantou a cabeça, encarou-a.
— Tens razão — disse. — É melhor vocês partirem.
Regina foi sentar-se ao lado dele, tirou-lhe o cigarro da mão e deu uma
passa.
— E tu?
— Eu tenho um último trabalho. Depois vendo o avião, se puder, ou levo-o
para a África do Sul e vendo-o lá. Em seguida vou ter convosco.
— Tens um último trabalho?
— Arranjei-o hoje e é muito bem pago. Não posso perdê-lo.
— E posso saber o que é?
Podia, disse Nuno, o que não podia era falar do assunto a ninguém.
— Não te preocupes — replicou ela, agastada. — Já não tenho ninguém
com quem falar.
— Mesmo assim...
— Porra, Nuno, sou a tua mulher, podes confiar em mim, ou não?