tempo. Depois de dar a ordem às suas tropas para que retirassem da cidade, o
presidente da UNITA, Jonas Savimbi, pediu protecção ao exército português.
Ao mesmo recurso deitaram mão os restos desgarrados da ELNA. Os
soldados derrotados juntaram-se no largo do Palácio do Governo para
pedirem protecção ao Alto-Comissário. Outros deambulavam desnorteados
pelos subúrbios e, os mais lestos na retirada, reagruparam-se na Fortaleza de
S. Pedro da Barra, junto à refinaria da Petrangol, o último reduto da FNLA,
nos arredores de Luanda. O exército português e a Cruz Vermelha
Internacional salvaram muitos deles de uma morte certa, transportando-os em
segurança para fora da capital, para o Norte de Angola.
Nuno encontrou-se com o senhor Dantas para um copo ao fim da tarde no
Clube Naval.
— Este país está a cair aos bocados — desgostou-se o senhor Dantas, com
os olhos postos na janela, um quadro panorâmico da cidade no outro lado da
baía. Estava-se a meio da batalha de Luanda e, onde quer que uma pessoa se
encontrasse, escutava o inevitável fragor dos combates.
Nuno levou um cigarro à boca, deu uma passa, bebeu um trago de uísque
puro, sem gelo. Faltara a energia e não havia gelo. Haver uísque já era uma
sorte.
— Estão a matar toda a gente — disse, olhando contemplativo para o seu
copo. — Ouvi dizer que a FNLA não se aguenta muito tempo.
— Não aguenta, não aguenta não — confirmou o senhor Dantas.
— E a UNITA nem se fala. Os tipos estão desesperados por receber mais
armas.
— Então, do que é que estamos à espera?
— É perigoso, Nuno, é perigoso — avisou.
— O que é que não é perigoso nesta terra?
— Lá isso é uma grande verdade.
— Vamos mas é resolver o assunto de uma vez por todas.
Tinham tido uma conversa após a primeira entrega, à mesa de jantar, no
Hotel Continental. Nuno mostrara-se furioso por o assunto ter chegado aos
ouvidos do MFA. Que tinha havido uma fuga de informação, era óbvio, mas o
senhor Dantas não sabia onde. Em todo o caso, disse, dado que as armas
vinham do exército português, não era difícil de adivinhar. Com certeza,