algum dos intervenientes na operação havia-a denunciado ao Conselho
Coordenador do Programa em Angola. A maioria das unidades era controlada
pelo MFA, havia informadores em todos os quartéis. A bandalheira no
exército estava institucionalizada, comentou o senhor Dantas, muito
desconsolado. Com efeito, pelas ruas de Luanda avistavam-se soldados
regressados do Interior, pouco aprumados na farda, usando barbas
desgrenhadas à Che Guevara, ao estilo revolucionário da época, nada dignos
do exército onde serviam, rigoroso até à revolução, vacilante depois desta.
Eram tempos raros aqueles, os soldados, sentindo o esboroar da autoridade da
cadeia de comando, esticavam a corda da liberdade apregoada pelo 25 de
Abril, escudavam-se nos slogans do socialismo, levavam a democracia para
os quartéis e a indisciplina ganhava terreno ao rigor.
As armas encontravam-se num armazém, em local seguro. Nuno e o senhor
Dantas concordaram em esperar algum tempo para fazer uma segunda
viagem. Mas depois a situação precipitou-se com a ofensiva do MPLA em
Luanda e os pedidos insistentes da UNITA para que lhe fosse entregue a
segunda remessa.
— É mesmo isso que você quer, Nuno? — perguntou o circunspecto senhor
Dantas.
— Absolutamente — respondeu. — Eu quero despachar o assunto
rapidamente, entregar as armas, receber o resto dos diamantes e adeus
Angola.
O senhor Dantas bebericou o seu uísque.
— É possível fazê-lo — considerou. — Não é isento de riscos, mas é
possível.