não via qualquer interesse. Fora lá uma vez apenas, duas semanas depois do
regresso, por curiosidade, para matar saudades, para regressar ao passado,
sabia lá. O balcão, as mesas, as cadeiras, a montra, o próprio dono do café, era
tudo o mesmo, estava tudo no mesmo lugar, tal e qual havia ficado há seis
anos. O tempo não passara por cima daquele lugar. Contudo, Regina não
reconheceu praticamente ninguém entre os clientes. Eram todos jovens, por
sinal muito mais jovens do que ela. Viu duas velhas amigas, deu com elas na
mesmíssima mesa que costumavam ocupar e, bolas, parece que estas duas
ficaram aqui sentadas a envelhecer enquanto eu estive a viver em Luanda.
Eram as últimas do grupo da juventude, as únicas que não se tinham casado, e
provavelmente já não casariam. Pôs a conversa em dia, informou-se sobre os
amigos de que perdera o rasto, ficou a saber quem se casara com quem e
quem entretanto já se divorciara de quem, inteirou-se do sucesso de uns e da
desgraça de outros, de um tipo conhecido que se afundara na droga e de outro
que andava metido na política, e por aí fora até duas horas mais tarde tomar
consciência de que as duas amigas falavam pelos cotovelos mas já não lhe
diziam nada. Observou-as, pensativa, fingindo-se interessada, a reparar que
estão iguais, as mesmas piadas, as mesmas ideias parvas sobre os homens,
sobre o mundo que lhes passa ao lado, as idiotas, envelheceram mas não
cresceram. Despediu-se delas derrotada com a sentença inapelável de que a
vida não voltava atrás. Foi-se embora sem se dar ao trabalho de lhes pedir o
número de telefone.
Voltou lá na mesma semana com Laurinda, mas à tarde. Olhou em redor e
suspirou, aliviada ao confirmar que, felizmente, não está cá nenhuma das
minhas ex-amigas. Regina encaminhou Laurinda para a mesa do costume,
porque havia hábitos que não se perdiam.
— Foi aqui — disse, com a voz a flutuar numa memória nostálgica — que
eu conheci o Nuno, nesta mesma mesa. Ele aproximou-se e ameaçou fazer um
escândalo se eu não o acompanhasse ao balcão para me oferecer um copo.
— E tu foste.
— E eu fui.
— Caramba, rapariga, que bom ver-te. Não te esperava tão cedo.
— Nem eu — admitiu Regina. — Mas tu tinhas razão, já não havia
segurança em Luanda.
— Aconteceu alguma coisa que te fez mudar de ideias?