O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Já não falo com ele há semanas. Não é normal. Que ele não pare em
casa, não me admira, mas porque é que não me telefona?


— Se calhar telefonou e tu também não estavas.
— Não, não é isso — disse Regina, afastando a explicação mais simples. —
Passa-se alguma coisa.


Inicialmente, Regina não dera muita importância ao assunto. Se era difícil
manter Nuno em casa quando ela estava em Luanda, imagine-se com o
apartamento vazio. Só mesmo por sorte o encontraria ao lado do telefone.
Portanto, achou que não havia motivo para entrar em pânico e esperou,
convencida de que ele acabaria por lhe ligar. Mas os dias correram e Nuno
nunca chegou a telefonar.


Aquele silêncio persistente acabou por fazer soar o alarme na cabeça de
Regina. Desde que ela se lembrava, naqueles anos todos, Nuno estivera fora
inúmeras vezes, dias a fio, semanas inteiras até, mas nunca deixara de lhe
telefonar regularmente. Só mesmo no caso de se encontrar retido nalgum
buraco sem comunicações, no meio do mato, é que Nuno não lhe ligava. E,
mesmo assim, avisava-a com antecedência de que isso poderia acontecer, para
a descansar. Agora, porém, ele estava em Luanda e não ocorria a Regina
nenhuma explicação plausível para Nuno não entrar em contacto com ela.


Foi marcando o número da casa de Luanda a horas diversas, debalde.
Tentou ligar para a vizinha, porque essa, ao menos, nunca saía. Regina não
fazia ideia de que dona Natércia já não estava em Luanda e, quando também
ela não atendeu, pensou que poderia haver uma avaria. Não explicava tudo,
evidentemente, Nuno tinha sempre a alternativa de telefonar doutro lado
qualquer, mas não deixava de ser uma justificação, ou meia justificação, com
boa vontade. A não ser que Luanda estivesse sem telefone, com uma avaria
geral, alguma sabotagem de guerra ou coisa que o valha. Regina tirou isso a
limpo através das informações e mais uma vez chegou à mesma conclusão
perturbadora de que não era por falta de comunicações que Nuno não lhe
telefonava, pois não havia avaria nenhuma.


Dominada por uma inquietação crescente, Regina atirou-se ao telefone e
gastou uma tarde inteira a contactar todos os conhecidos que ainda lhe
restavam em Luanda. E de todos escutou a resposta incompleta de que não
sabiam de Nuno mas também não tinham ouvido nenhuma notícia má sobre
ele. Simplesmente não sabiam nada. Já era uma consolação, pensou Regina.
Se Nuno se tivesse despenhado com o seu avião de certeza que toda a gente

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