estaria a par do desastre. As más notícias corriam depressa e desta não havia
relato. Com isto, Regina foi eliminando hipóteses e, por exclusão de partes,
aproximando-se da que mais receava.
Aquele que Regina mais ansiava contactar era, precisamente, o mais difícil
de encontrar. A exemplo de Nuno, Patrício também não era um tipo muito
caseiro. Melhor dizendo, Patrício nem sequer tinha um poiso certo a que
pudesse chamar casa. Ele era, de momento, o melhor amigo que Regina tinha
em Luanda e o que mais lhe podia valer num aperto. Patrício era jornalista,
estava bem posicionado, tinha conhecimentos, podia mover influências se
fosse necessário. Regina não contara a Laurinda, nem aos pais, o que levara
Nuno a ficar em Luanda durante mais algum tempo. Não dissera a ninguém
que ele andava a traficar armas, a fazer voos clandestinos e perigosos. De
facto, tão arriscados que podiam custar-lhe a vida. Lembrava-se de terem tido
uma discussão e de ela lhe ter sugerido que mais valia atirar-se da janela,
suicidar-se logo, em vez de se dar ao trabalho de ir entregar a porcaria das
armas à UNITA. Agora sentia-se mal por ter dito aquilo. Nuno podia estar em
apuros. Não, Nuno estava decididamente em apuros. Alguma coisa havia
corrido mal, tinha a certeza. Não lhe ocorria outra explicação para o seu
desaparecimento.
Conseguiu localizar Patrício duas semanas depois de ter começado a tentar
contactá-lo. Falou com ele ao telefone, explicou-lhe que não sabia nada de
Nuno há mais de um mês, que estava desesperada com a falta de notícias e
implorou-lhe que o procurasse. Pediu-lhe ajuda, mas, assim como não contou
à família e a Laurinda das armas para a UNITA, também não disse nada a
Patrício. Regina confiava nele, mas não se esquecia do seu envolvimento com
o MPLA. A situação em Luanda era tão volúvel, tão estranhamente
imprevisível, que uma pessoa podia ver-se ameaçada de morte por qualquer
um, por qualquer motivo, em qualquer altura. E quem é que, nessas
circunstâncias, não estaria disposto a trair um amigo para salvar a pele?
Alguns, certamente, mas Regina não sabia se Patrício seria um desses, se não
vacilaria naquele momento transcendente em que lhe apontassem à cara a
ponta do cano de uma Kalash . A guerrilha em Angola não se dava bem com
as regras civilizadas da Convenção de Genebra. Que diabo, nem sequer as
conhecia! Um prisioneiro era para ser maltratado, caso contrário não seria
prisioneiro. Por esses dias em Luanda o MPLA capturava tanta gente que nem
dava conta de todos os desgraçados que lhe caíam nas garras. Verdade fosse
dita, a maioria dos casos resolvia-se com uma bala à beira da estrada. Mas
também havia os prisioneiros importantes, os que não se matavam de ânimo