O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

André teria de crescer órfão de pai e de mãe! Não havia soluções perfeitas,
mas agora que tomara uma decisão Regina sentia-se mais aliviada, com um
peso na consciência também, por causa do filho, mas aliviada. Ela nunca se
perdoaria se não fizesse nada para ajudar Nuno. Poderia tentar convencer-se
de que fora o mais correcto, pois como mãe não tinha o direito de arriscar a
sua vida, mas no fundo da sua alma haveria sempre uma vozinha a dizer-lhe
que não valia a pena continuar a inventar justificações para desculpar a sua
cobardia.


Irrequieta como era, uma vez decidida, Regina só não estava já em Luanda
à procura de Nuno porque ainda precisava de conseguir avião. Queria
acreditar que um dia o filho compreenderia a sua decisão e, estava certa,
aprová-la-ia. Teve uma longa conversa a sós com André, explicou-lhe o que
iria fazer tão detalhadamente quanto era possível explicar uma coisa daquelas
a uma criança pequena.


—   O   pai precisa de  mim e   eu  vou ajudá-lo    —   disse.
— Porque é que o pai precisa de ajuda?
— Porque ele se meteu em apuros e a mãe tem de ir ter com ele.
— Mas ele está doente?
— Não, não está doente.
— Mas, então, ele magoou-se?
— Também não, meu querido. Não te preocupes, que ele está bem.
— Se ele está bem, porque é que precisa de ti?
— Porque eu vou ajudá-lo a vir para Portugal.
— Ele precisa de ajuda, não é?
— É, André, é.
— Está bem, mãe...
— Olha, filho, eu vou e volto daqui a poucos dias, está bem?
— Está.
— E prometo-te que trago o pai comigo.
— Prometes?
— Prometo.
Abraçou-o, com lágrimas furtivas que cuidou de limpar antes de se separar
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