58
Despediu-se do comandante no aeroporto. Ele ofereceu-se para a levar até
ao centro da cidade, mas Regina disse que não era preciso, que tinha uma
pessoa à sua espera. Antes de se separarem, ele renovou a oferta para a
transportar de regresso a Lisboa dali a dois dias. Depois partiu com a sua mala
de mão, os seus óculos escuros na cara, o seu sorriso deslumbrante. Regina
ficou ali um instante parada, vendo-o afastar-se acompanhado dos restantes
membros da tripulação. Mas logo o sorriso lhe morreu no rosto e ela rodou
nos calcanhares e foi à procura de Patrício.
Descobriu-o a fazer-lhe sinal de braço no ar, no meio de uma confusão de
gente. O aeroporto continuava tão tumultuoso como da última vez, cheio de
gente assustada, com pressa de partir. Havia uma atmosfera húmida, saturada.
Respirava-se um ambiente pesado, viam-se os mesmos rostos cansados,
transpirados, derrotados. Em contrapartida, lá fora, o parque de
estacionamento estava bastante mais desimpedido. A certa altura, chegara a
parecer-se com uma pequena cidade de refugiados, amontoados ao relento em
cima de malas e caixotes cobertos com plásticos, em condições miseráveis.
Esse acampamento ingrato tinha praticamente desaparecido. Sinal de que já
havia poucos portugueses em Luanda.
Patrício deu-lhe um abraço fraternal e tirou-lhe a mala da mão.
— Como estás?
— Estou que nem queiras saber.
— Imagino. Vamos embora — disse, encaminhando-a para fora. A sua
expressão era grave, a voz preocupada, os gestos nervosos. Regina nunca o
tinha visto assim.
— Tens alguma coisa para me contar? — perguntou-lhe.
— Tenho — confirmou Patrício, enquanto se esgueiravam pela multidão,
evitavam malas, sacos e caixas de cartão, cruzavam-se com soldados pára-
quedistas em patrulha, armados com espingardas G-3.
— Então, o que é? Desembucha — pediu ela, alarmada com a atitude
comprometida de Patrício.
— Espera, já te digo.
Saíram do edifício e Regina sentiu logo o impacto do calor abafado e
húmido do cacimbo. Caía uma chuvinha miudinha. O dia tristonho, coberto