por um tecto de nuvens opressivo, estava irrespirável. Ele levou-a até um
velho jipe Land Rover , verde-garrafa, capota branca, roda em cima do capot.
— Vamos a algum safari? — resmungou ela.
— Foi o que se arranjou — disse Patrício. Abriu a porta de trás e colocou a
mala dela no chão do jipe.
— Nem sabia que tinhas carro.
— Não tenho, é emprestado.
Saltaram para dentro, bateram com as portas. Patrício meteu a chave na
ignição e rodou-a. Soltou o travão de mão e engrenou a primeira, mas falhou
a mudança e a caixa fez um barulho muito parecido com peças a desfazerem-
se.
— Sabes guiar? — continuou Regina a embicar com ele.
— Queres parar de me chatear? — Regina levantou as mãos, em sinal de
rendição.
— Okay — encolheu-se. — Já cá não está quem falou.
Ele meteu a mudança certa e avançou para fora do parque de
estacionamento. Depois começou a falar.
— Aqui há umas semanas, o avião do Nuno foi sabotado, em terra.
Regina deu um salto no lugar, voltou-se no banco, ficando quase de frente
para ele.
— Foi sabotado?! Sabotado, como?
— Chegaram-lhe fogo, explodiu. — Ela levou a mão à boca.
— Porra, Patrício...
— Eu sei... — disse ele. — Mas tem calma. Tanto quanto eu sei, ele nem
estava por perto.
— Quem foi? Quem pegou fogo ao avião?
— Regina, o Nuno não te contou?
— Não me contou o quê?
— Ele andava a fornecer armas à UNITA.
Regina calou-se. Não disse que sim nem que não. As escovas finas, gastas,
lutavam ingloriamente para afastar a água do pára-brisas. Ouvia-se uma
chiadeira de metal a roçar no vidro.