O Último Ano em Luanda

deitar fora os despojos do drama, enxugar as poças de sangue em camadas de
papel ou varrê-lo para fora com uma vassoura, esfregar bem o chão com
detergente para lhe arrancar as manchas vermelhas e o cheiro agoniante das
feridas em carne viva e do medo, que ainda assim, por mais que lavasse,
perdurava sempre na memória. No dia seguinte regressava ao Interior para
recuperar a sua mercadoria ou, caso esta já tivesse desaparecido, o
equivalente ao seu valor num envelope cheio e religiosamente certo. Nunca
ninguém deixou de pagar, pois era ponto assente que, se lhe dessem um
calote, nunca mais lhe viam a cara. Acabava-se logo o serviço.