Nuno explicou-lhe que precisava de comprar o fato para conseguir o emprego
e o professor rendeu-se ao seu espírito empreendedor. E como poderia negá-
lo, se se tratava de investir no futuro do rapaz?!
Nuno visitou o stand , adorou a moto, conversou muito, pediu uns dias para
pensar. Regressou, insinuou-se um pouco mais, entrou em terrenos mais
pessoais para explicar que estava a contar com um lugar no hotel — sim,
exagerou um pouco — e que a moto ficava dependente do emprego. O
homem do stand , um tipo janota, de unha arranjada e verbo fácil, orgulhava-
se de ser um conhecedor da raça humana e, como bom vendedor, sabia
reconhecer outro bom vendedor. Claro que se disse logo muito íntimo do
hoteleiro — sim, também exagerou um pouco —, uma extraordinária pessoa,
aliás, na sua opinião, e, sim, teria todo o gosto em dar-lhe uma palavrinha a
favor de Nuno. Mas, pensando melhor, preferia fazer-lhe outra proposta.
— Você vem trabalhar para mim até pagar a moto — propôs — e depois se
vê.
— Está a oferecer-me um emprego?! — espantou-se Nuno.
— É o que parece.
— Fico com a moto e com o emprego? — perguntou, atónito.
— Bem, a moto paga-se com o seu ordenado, o seu ordenado depende das
comissões das vendas, o emprego depende do que você conseguir vender.
Nuno ponderou um pouco no assunto. Cruzou os braços com os olhos fixos
na moto e fingiu que avaliava a proposta, sem acreditar na sua sorte.
— Está bem — acabou por dizer. — Aceito, enquanto não resolvo a
questão do hotel.
— Fechado — disse o outro, estendendo-lhe a mão bem tratada.
— Fechado.O dono do stand não acreditou que Nuno tivesse, de facto, o emprego no
hotel praticamente assegurado, nem sequer encarou com seriedade a
possibilidade de o recomendar, mas, lá estava, um bom vendedor conseguia
reconhecer outro talento a léguas. Nuno era um jovem encantador e com uma
determinação, uma convicção, uma capacidade invulgar para se
autopromover. O homem estava fascinado com ele, convenceu-se de que tinha
à sua frente um animal de vendas. Não se enganou.
Nuno tinha este dom natural para levar as pessoas a gostarem de si, para