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Nuno tinha muitas mulheres, todas as que queria, mas nunca lhes dava a
oportunidade de o conhecerem realmente. Elas deixavam-se deslumbrar pela
sua beleza, pelo seu charme cativante, perseguiam-no, assediavam-no e, ao
fim da noite, ele escolhia uma, levava-a para casa, para a cama e era tudo.
Uma semana era uma eternidade, poucas conseguiram ficar com ele tanto
tempo, e mesmo essas não mais do que isso. Nuno dizia-lhes tudo o que elas
queriam ouvir, desfazia-se em cortesias românticas, mas nunca passava da
superficialidade das palavras agradáveis nas noites encantadas. No dia
seguinte o encanto quebrava-se. Puff! Tratava-se apenas de conquistar e
nunca de dar continuidade a uma relação. Podia ser muito insistente com uma
mulher que resistisse ao seu fascínio, era capaz de andar atrás dela durante o
tempo que fosse necessário para a conquistar, mas, uma vez concretizado o
intento, uma vez consumada a sua... digamos, curiosidade, largava-a,
simplesmente. Cada uma reagia à sua maneira, evidentemente, mas todas se
sentiam despeitadas e humilhadas e, ao fim de algum tempo, Nuno descobriu
que os padrões variavam apenas consoante os feitios. As mais vulneráveis
podiam chegar ao extremo das cenas de pranto e até de implorar pelo seu
amor; as mais temperamentais despediam-se com um chorrilho de insultos e
uma estalada para lavar a ofensa; finalmente, as mais cerebrais mantinham a
dignidade a todo o custo, só se permitindo uma resposta seca, fria, um voltar
de costas, mesmo que depois de terem destilado todo o seu desprezo fossem
chorar para longe das vistas daquele cabrão. Enfim, eram momentos
desagradáveis, admitia Nuno, mas faziam parte da rotina.
Ao fim de três anos cansou-se do stand e despediu-se. Já não se satisfazia
com as comissões que recebia, queria ganhar mais e sentia que poderia
consegui-lo sozinho. O patrão negou-lhe um aumento, para quê, se o tenho
seguro pelos tomates? Mas Nuno, que não era do género de pedinchar,
pensou por sua vez que o patrão podia ir para a puta que o pariu e, como já
conhecia bem todos os truques do negócio, decidiu que estava preparado para
arriscar. Lançou-se por conta própria, levou consigo uma boa parte dos
clientes do stand . Sem remorsos. Afinal de contas, fora ele quem os angariara
quase todos e até lhe dava algum gozo lixar o patrão por causa da
questãozinha do aumento.
Achou que não valia a pena abrir um stand, seria uma despesa extra e uma
prisão. O que Nuno gostava era de andar por aí, contactar os clientes por