O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

tornou aborrecido, pois acabava por se ver obrigado a responder-lhes com
uma certa agressividade para os enxotar. Nunca lhe passara pela cabeça
meter-se nessas cavalgadas e não tencionava fazê-lo. Só que era difícil uma
pessoa livrar-se de um agarrado persistente e, então, vinha ter consigo um
betinho rico com a namoradinha atrelada, muito loira, muito envergonhada,
até Nuno lhe piscar o olho e ela corar de prazer e, à primeira distracção do
pateta do namorado, aproximar-se de Nuno e arranjar uma desculpa
esfarrapada para meter conversa. E Nuno, depois de ter pedido um preço
exorbitante pela porcaria das pastilhas para mandar embora o menino rico e,
mesmo assim, ele pagar sem pestanejar, decidia ficar-lhe com o dinheiro e
com a namorada só para ele não ser parvo e, bom, também por lhe dar um
certo gozo levar para a cama uma filhinha do papá bonita como tudo e
desejosa de se meter debaixo dele só pelo capricho de experimentar um tipo
de outro meio, sem a mesma educação, enfim, um tipo lindo de morrer mas
que não era fino. E na noite seguinte era abordado por duas amigas atrevidas e
ele, com o seu melhor sorriso, respondia-lhes que não era fornecedor mas que,
por acaso, tinha umas pastilhas em casa e oferecia-lhas de bom grado se, por
acaso, estivessem interessadas em fazer uma festa a três. E se elas
concordavam com a proposta, também não seria Nuno a dizer-lhes que dissera
aquilo por dizer e nem estava à espera de que aceitassem.


Com isto, tornaram-se óbvias as vantagens de trazer um fornecimento
suplementar de pastilhas no bolso. Os meninos ricos pagavam sempre o preço
pedido, por mais absurdo que fosse, e, ainda por cima, Nuno ficava-lhes com
as namoradas e as amigas. Como se costumava dizer, o dinheiro não tinha
cheiro e, em contrapartida, a pele macia daquelas raparigas excitadas, com os
seus corpos feitos à medida, cheirava a Chanel e outras fragrâncias
inebriantes. E Nuno não se importava nada de ganhar umas massas extra e
conquistar meninas finas com tendência para a asneira.


Foi uma época boa, uma orgia de facilidades e divertimento. O dinheiro
corria a rodos, havia mulheres diferentes todas as noites, álcool, drogas, sexo.
Mais irresponsabilidade, maior descontracção, não se poderia pedir-lhe. Nuno
não se preocupava, só estava interessado em viver o presente. Não queria um
emprego, uma carreira, não pensava casar-se, não desejava ter filhos. Gostava
de mulheres mas achava que não precisava realmente de nenhuma. Não
estava preparado para nada sério, recusava-se a assumir uma relação e
negava-se a dar explicações.


—   Não me  queres  conhecer    melhor?
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