O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

respondeu-lhe, a pensar que não me voltas a ver a fuça, meu grande cabrão.
Mas o fornecedor sabia onde encontrá-lo e abordou-o com nova proposta, um
pouco mais favorável, porém não muito. Nuno continuaria a vender o produto
e, a partir de uma determinada quantidade, ele baixava-lhe a comissão e, se
não alinhas, parto-te as pernas na mesma. Se aquilo não era uma proposta
irrecusável, então o que seria? Nuno aceitou, evidentemente, não só porque
não se lhe afigurou aceitável fazer frente a um filho da mãe de reputação
sobejamente conhecida, mas também porque sem o negócio das pastilhas já
não conseguia encher a banheira com notas e moedas e tomar banho como o
Tio Patinhas, que era a sua fantasia preferida naqueles tempos extraordinários.
Convenceu-se de que só teria de ser cauteloso, mais discreto. Era isso ou ficar
aleijado, disse a si mesmo, como que a justificar-se, sem ver, ou sem querer
ver, que ia a caminho do desastre total.

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