arruinar os bons conhecimentos que ambicionara usar nos negócios legítimos
que fervilhavam na sua imaginação. Era imperioso largar aquilo tudo, livrar-
se do fornecedor, afastar-se durante uns tempos e, então, regressar com a
cabeça no lugar e recomeçar uma vida decente e com futuro.
Achou que África era um destino suficientemente longe para fazer umas
férias prolongadas ou, quem sabia, recomeçar mesmo uma vida diferente.
Porque não? Sempre ouvira dizer que era uma terra apaixonante e cheia de
possibilidades para quem quisesse empenhar-se a sério nalgum projecto. O
plano, carinhosamente alimentado com sonhos de riquezas à mão de semear,
foi ganhando forma à medida que se lhe tornava insuportável continuar a
viver naquelas circunstâncias. As noitadas já não tinham graça, eram um
sacrifício, quando não um pesadelo. Vivia acossado pelo peso da consciência,
pelo medo de ser apanhado pela Polícia, sentia-se vigiado e reagia mal, era
desconfiado, agressivo, conflituoso. Empreendia frequentemente com
desconhecidos de quem suspeitava só por olharem duas vezes para ele. Estava
a ficar paranóico e violento.