O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

evidente se tornava que já percebera o esquema todo, que ia ser enganado e,
porra, o caldo vai entornar-se . Nuno estava sem saber o que fazer, se
aguentar o bluff , se fugir. Resolveu aguentar mais uns segundos, tentar
convencê-lo da sua boa-fé, sem exteriorizar os nervos em franja, o coração
esfrangalhado, a bater tão depressa que parecia estoirar. O pior, pensava
Nuno, fumando o seu cigarrinho como quem não tem problema nenhum,
obrigando-se a não espreitar o saco da TAP pousado ali a seus pés, tão perto e
tão longe, o grande busílis, pensava ele, era que sem a coca que pretendia
extorquir ao fornecedor não arranjaria a massa para fugir e sem dinheiro não
havia magia, não poderia fazer o truque de desaparecer dali e aparecer noutro
lado, num continente diferente, suficientemente longe para não ser encontrado
pelo fornecedor, nem pelo fornecedor do fornecedor que, apesar de nem
sequer o conhecer, o aterrorizava muito mais do que o mafioso sentado ali a
seu lado. E depois lembrou-se de Regina, a leste destes esquemas todos, que
mais tarde estaria à sua espera no aeroporto e perguntou-se o que imaginaria
ela se ele não aparecesse, se algo corresse mal.

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