O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

dar um destino às coisas do pai, mas nunca chegou a fazê-lo.


Conheceu Regina quando se preparava para partir para Angola. Como todas
as outras mulheres da sua inumerável lista, Nuno quis conquistá-la só pelo
desafio. De qualquer forma viajaria em breve e nem Regina nem mulher
alguma estava nos seus planos. Mas desejou-a desde o primeiro momento.
Regina não fez nada para o conhecer, não se insinuou, até lhe notou um certo
desdém no olhar. E isso espicaçou-o. Depois aconteceu o imponderável. Ao
contrário do que lhe era habitual, Nuno viu-se a passear de mão dada com
Regina pela Avenida de Roma uma semana mais tarde. Ou seja, passara uma
semana inteirinha com ela e agora percorriam o passeio largo ao fim de uma
tarde fresca de Outubro como se fossem namorados e — também ao contrário
do que lhe era habitual em questões de mulheres — nem sequer tinha tomado
um copo antes de se encontrar com ela. Aliás, não se encontrara com ela, uma
vez que haviam passado o dia juntos a fazer amor em casa dele e tinham saído
para dar uma volta e talvez jantar. Acabaram por ir a um restaurantezinho
despretensioso ali por detrás da avenida que servia comida caseira, onde
Nuno costumava ir quando estava sozinho e onde nunca levara nenhuma
mulher. Por norma, quando convidava uma mulher para jantar, gostava de a
impressionar e escolhia algum restaurante sofisticado, de preferência um que
estivesse na berra e onde só se conseguisse uma mesa se se fizesse a reserva
com uma semana de antecedência. Claro que Nuno já conhecia o chefe de
mesa e este já sabia que receberia uma gorjeta bastante generosa ao final da
noite. Mas, com Regina, Nuno não sentiu necessidade de recorrer a esse tipo
de jogada psicológica, até porque as outras ele levava-as a jantar antes de as
levar para a cama e com Regina aconteceu exactamente o contrário. Dir-se-ia
que já estavam num patamar em que pouco importava onde é que iam jantar,
desde que jantassem juntos. E no final Nuno ficou com a impressão de que
Regina apreciou mais o facto de ele a ter levado ao seu cantinho especial em
vez de se ter decidido por um restaurante na moda mas impessoal. Entendeu
isso como uma forma de ele lhe revelar um bocadinho mais da sua
intimidade. Vamos ali a um sítio onde costumo ir e onde se come
maravilhosamente, disse-lhe, dando-lhe o braço para ela se encostar enquanto
caminhavam. Ao entrarem, o dono veio de trás do balcão para os receber com
a simpatia reservada aos clientes habituais, ofereceu-lhes a melhor mesa e
tagarelou um bocado enquanto escolhiam os pratos. Regina aceitou a comida
que Nuno recomendou e divertiram-se imenso, passaram a noite a rir-se com
as piadas um do outro e adoraram todos os momentos.

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