Nuno meneou a cabeça, desconcertado. Dava para acreditar naquele tipo?
— Não, não, não — fez que não com o dedo. — Nada de cheques.
Dinheiro.
— Mas é a mesma coisa!
— Ouve bem o que eu te digo. É dinheiro ou nada.
O outro recostou-se na cadeira giratória de braços, quase desaparecendo na
obscuridade, a ponderar ingenuamente o problema.
— Não gostas de cheques?
Nuno sentou-se numa cadeira de braços estofada, deixou cair o saco aos
seus pés, inclinou-se para a frente, colocou os cotovelos em cima da
secretária, entrelaçou os dedos, encarou-o.
— Queres comprar meio quilo de coca com um cheque? Tu regulas bem?
O playboy fez menção de falar, mas não chegou a dizer nada.
— Não se compra droga com cheques, capicci?!
— Porque não?
— Olha, esquece. Eu tenho um avião para apanhar e não vou ficar aqui
sentado a discutir parvoíces contigo. Tens a merda do dinheiro, ou vou-me
embora?
— Okay, okay, numa boa, não há crise, tudo tranquilo. É dinheiro é
dinheiro... — Levantou-se, dirigiu-se a uma das estantes, carregou num botão
invisível e uma secção das prateleiras soltou-se, abrindo-se como uma porta.
Atrás havia um cofre, que ele abriu, fazendo correr várias rodas individuais
colocadas num painel vertical, até acertar a combinação de números do
código da fechadura. — Vou dar um desfalque ao meu pai — riu-se. — Ele
disse que era para as emergências. Isto é uma emergência, certo?
— Certo — concordou Nuno, como queiras, desde que me dês a massa
depressa.
— Cá está — disse. Estendeu-lhe dois maços de notas.
— Vês? Não custou nada — comentou Nuno, mais bem-disposto. Contou o
dinheiro depressa, guardou-o no bolso de dentro do blusão de cabedal,
apontou para o chão. — Podes ficar com o saco. É oferta da casa. Até à
próxima.
Fechou a porta do escritório, piscou o olho à menina do bengaleiro e saiu