O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

Nuno, claro que não seria capaz de lhe fazer uma coisa dessas. Os pais
tinham-no abandonado em miúdo, cada um à sua maneira, ele tornara-se
versado em abandonar mulheres, namoradas que nem chegavam a sê-lo, já
que nem lhes dava tempo, mas agora, decidiu, era altura de acabar com isso,
era altura de deixar de afastar as pessoas da sua vida. Bem, cada coisa a seu
tempo, evidentemente, não estava a dizer... melhor, não estava a pensar que
se apaixonara por Regina nem nada disso. Gostava dela, admitia-o, mas daí a
comprometer-se para a vida ia uma distância muito grande. O plano era levá-
la consigo para Angola, passarem uns tempos felizes, divertirem-se, e depois
logo se veria. Nada de obrigações. Que diabo, tinham combinado uma
viagem, não um casamento! Mas enfim, Nuno confiava que as coisas
haveriam de seguir o seu caminho natural e era assim que devia ser. Para já,
sentia-se feliz por tudo ter acabado bem, por ter o dinheiro no bolso, os
bilhetes de avião, Regina à sua espera e... e dobrou-se para agarrar a mala e
quando se endireitou viu o fornecedor!


O assunto com o jovem do Restelo acabou por se concluir de forma
bastante satisfatória. O fornecedor conseguiu retirá-lo da sala sem escândalo
e, só os dois na tranquilidade do escritório do papá, levar as coisas a bem.
Teve de apertar um bocado com o rapazinho, mas nada que um par de
lambadas e uma ou duas ameaças cortantes não tivessem resolvido. No final,
saiu com o saco de coca quase intacto e ainda, a título de indemnização, com
um maço de notas frescas que chegava para pagar a branca em falta e muito
mais. O fornecedor sentiu-se orgulhoso de ter sido capaz de controlar o seu
mau génio e de não ter disparatado completamente logo ali na sala, à frente de
toda a gente. Achou-se muito inteligente, um gajo maduro, um modelo de
bom senso. Caso contrário, a situação podia ter-se posto feia para o seu lado,
porque uma coisa era dar uns abanões a um menino mimado no recato do
escritório do paizinho e outra, completamente diferente, era enfrentar uma
chusma de rapazes excitados, bem constituídos e com o julgamento alterado
pelo álcool, pela coca e por sabia-se lá mais o quê. Isolados, nas mãos de um
profissional, eram uns caguinchas inofensivos. Em grupo, bêbados e
drogados, transformavam-se. Meninos de coro de merda , o fornecedor
conhecia-lhes o género, sempre prontos para a porrada por sentirem
necessidade de provar que lá por serem betinhos não lhes faltava a coragem.


Em todo o caso, recuperara a coca e já podia respirar outra vez. Pelo menos
não morria desta. Mas ainda não estava safo, porque ainda havia a questão

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