deles. Carol revelou-se uma daquelas pessoas desinibidas, com tendência para dominar as
conversas, que falam, falam, falam, sem dar muitas oportunidades aos outros. Mas era animada.
Perguntou-lhes o que faziam e mostrou-se encantada quando soube que Cristiane era hospedeira de
bordo e João Pedro pintor. Dali a pouco já se tratavam todos por tu e mandavam vir mais uma
rodada de caipirinhas.
— E tu? — perguntou João Pedro. — O que fazes?
— Sou fotógrafa.
— Eu adoro fotografia! — exclamou Cristiane.
Carol não revelou a profissão de Miguel? Paulo? e ninguém quis saber, mas, das poucas vezes que
ele abriu a boca afectado por um grande pedantismo, perceberam que era CEO de uma empresa
qualquer. Disse assim mesmo, usando o acrónimo, levemente entediado, muito cheio de si próprio.
João Pedro e Cristiane não reconheceram o nome da empresa e também não se interessaram o
suficiente para indagar a que se dedicava. Mas nos dias seguintes, o CEO Miguel? Paulo? haveria de
ser motivo de galhofa entre os dois e tornar-se uma daquelas piadas particulares que marcam uma
viagem, porque haveriam de se trata por CEO de tudo e mais alguma coisa a imitar o ar pretensioso
do namorado de Carol.
Não voltaram a encontrá-los. João Pedro ficara com o cartão de visita que Carol lhe entregara ao
fim da noite e ainda sugerira que combinassem um jantar. Mas Cristiane não estava para aí virada.
Bem vira como João Pedro rejubilara com a outra e queria distância. Dispensava mais uma noite a
vê-lo fazer figura de parvo a beber as palavras de Carol e a rir-se desalmadamente das suas
piadolas. Ficou furiosa, apeteceu-lhe regurgitar sobre ele um ou dois comentários ácidos acerca
disso, dizer-lhe o que pensava de homens-tolos-que-se-babavam-em-cima-de-mulheres-fáceis-que-
se-atiravam-descaradamente-a-desconhecidos-na-presença-dos-respectivos-namorados. Mas engoliu
a fúria, determinada a não estragar o ambiente entre eles. Preferiu ignorar o assunto e fingir que não
se sentia minimamente afectada. Adoptou uma atitude de superioridade. Afinal, não tinham nenhum
compromisso, certo? O que é que lhe interessava?
Quando saíram do restaurante não disse nada, apesar de ressentida, e ainda bem que não disse
porque, no dia seguinte, depois de dar um mergulho revigorante na piscina do hotel, reconsiderou a
sua fúria. Deitada numa espreguiçadeira a aproveitar o sol matutino antes de as nuvens fecharem o
céu, pesou o seu incómodo já de espírito desanuviado e pensou que talvez tivesse dado demasiada
importância ao assunto.
Observou de esguelha, por detrás dos óculos de sol, João Pedro adormecido na espreguiçadeira à
sua direita. Tinham tomado o pequeno-almoço no restaurante do hotel e ele revelara-se tão afável e
atencioso como nos dias anteriores. Comentara vagamente que achara Carol simpática e o CEO uma
besta. Ela concordara e ainda se riram um bocado à custa do circunspecto namorado de Carol. Mas
mais nada, os olhos de João Pedro não brilharam ao referir-se a Carol, nem demonstrou particular
interesse em falar dela. Sentiam-se ressacados e lentos, sem coragem para grandes passeios, por
isso, decidiram passar a manhã na piscina.
Ponderando agora os acontecimentos da noite passada, Cristiane teve em consideração que João
Pedro já havia bebido muito quando Carol lhe surgira à frente e, pensando bem, tivera o
comportamento típico de outro homem qualquer: divertira-se com ela, um pouco ingenuamente, e nem
pensara que pudesse ofender Cristiane. Certo, tinha sido um bocado insensível e egoísta, mas, mais