uma vez, não eram todos assim? Suspirou, resignada a esta característica pueril dos homens.
Perguntou-se como teria ele reagido se fosse ao contrário, ela a divertir-se com o CEO, ou outro
qualquer. Teria ficado mortalmente ofendido na sua masculinidade, evidentemente.
Sem se dar conta, Cristiane estava à procura de argumentos para o desculpar, porque ele era
diferente e ela não queria ter razões para o afastar. João Pedro voltara a surpreendê-la, os homens
que saíam consigo costumavam sentir-se suficientemente felizes e orgulhosos com a sua companhia e
não ligavam às outras mulheres. Mas João Pedro tinha aquela atitude descontraída, aquele ar
distraído, algo distante, sempre com a cabeça nas nuvens. Era encantador, mas pouco empenhado,
como se não se importasse muito se a perdesse. E Cristiane, perplexa, pensava que nunca lhe tinha
acontecido nada semelhante.
Quer se queira, quer não, a vida é dominada pelos interesses. Poderá ser uma perspectiva algo
cínica de ver as relações humanas, mas a realidade é, quase sempre, mais simples do que
pretendemos fazer dela. E os interesses, desde que mútuos, aproximam-nos. Senão, vejamos: os
homens que saíam com Cristiane interessavam-se por ela por ser tão bonita que era para eles um
autêntico deleite serem vistos na sua companhia. Não estavam apaixonados por ela, pois Cristiane
não lhes dava tempo. Em geral, estragava tudo antes de alcançarem esse estágio da relação. Ela
também tinha o seu interesse, não pretendia uma relação estável e duradoura, mas precisava deles
para não se sentir sozinha. Gostava de ter companhia para ir jantar fora, ou ao cinema, ou a uma
festa, embora soubesse que, para muitos, ela representava uma espécie de troféu que adoravam exibir
aos seus pares como símbolo de virilidade, e isso irritava-a sobremaneira.
Certa vez, abandonara um tipo estupidamente rico a meio da noite, depois de ele parar o Ferrari à
porta de uma discoteca da moda no Algarve, entregar a chave do carro e uma nota alta ao porteiro e
entrar por ali adentro com modos ostensivos. Cristiane percebera que o idiota estava a armar-se em
bom perante as pessoas conhecidas e que ela e o Ferrari faziam parte da encenação, tal como a mesa
reservada na esplanada ajardinada da discoteca e a garrafa de Moet & Chandon que já esperava no
balde de gelo. Este tipo não a respeitava, atreveu-se a dizer, sonoramente, aos amigos que se
encontravam na sua mesa: «Esta gaja é boa ou não é? Material deste não arranjam vocês!» Deu-lhe
uma palmada na coxa, como faria a uma vaca de raça nobre, e estalou a língua num modo teatral para
sublinhar a qualidade do material.
É verdade que Cristiane saía geralmente com homens bem-sucedidos e apreciava os Ferraris e os
melhores restaurantes, e gostava de não se preocupar com o dinheiro, a ponto de deixar a carteira em
casa porque ocupava muito espaço na sua clutch Chanel que combinava com o ousado vestido
Valentino. No entanto, não admitia que a desconsiderassem. O palerma rico pensava que, como
pagava as contas, tinha direitos de propriedade e permitia-se tratá-la como um animalejo amestrado.
Mas foi brutal com ela, extremamente ofensivo. Os amigos ficaram incomodados e até as mulheres
presentes, que lidavam mal com a companhia deslumbrante de Cristiane por se sentirem
insignificantes ao seu lado, o admoestaram de sorriso amarelo e protesto brando, por solidariedade
feminina. Porém, a dignidade, a educação e a inteligência de Cristiane eram notoriamente superiores
à boçalidade abjecta do tipo do Ferrari. Muito serena, levantou-se do seu lugar, agarrou na garrafa
de Moet & Chandon , verteu com elegância o champanhe sobre o parvalhão. Um segundo antes, ao