anterior, já estava bastante bêbado, pois sim; o bar era uma confusão de luzes e música alta, pois era;
sentado no banco alto ao balcão, tinha a sensação de que a sala se movia, baloiçando como um navio
a navegar em mar aberto, absolutamente! E no entanto, nada disso o demoveu da convicção de que
Carol era a segunda mulher do seu sonho. E hoje estava ainda mais convencido. O sonho de João
Pedro tornara-se uma questão de fé, um dogma. Ele acreditava!
Achava Carol fantástica, cheia de energia, uma fera! Ficara encantado com ela, era quase uma
fatalidade conhecê-la melhor. De resto, pensou, não dependia de si, estava destinado a conhecê-la
melhor, tal como acontecera com Cristiane. A sua alma sorriu, congeminou planos. No Rio de Janeiro
não teria oportunidade de privar com ela, provavelmente nem voltaria a vê-la, mas em Lisboa não
faltariam oportunidades.
Bem vira a disponibilidade de Carol para falar com ele, para saber coisas dele, era só olhos para
ele! A determinada altura da noite, parecia que só existiam os dois. O namorado de Carol apagara-se
numa indiferença obstinada, enquanto Cristiane se esforçava para acompanhar a conversa, as
parvoíces que diziam, as gargalhadas que davam, mas eles os dois estavam imparáveis. Havia ali
uma química, uma ligação poderosa, pensou. Depois teve um rebate de consciência, era preciso não
magoar Cristiane, ela não merecia. Não, definitivamente, haveria muito tempo em Lisboa.
O dia tornou-se apático ao início da tarde. As nuvens deprimiram o céu com uma cor cinzenta,
pesada, caiu uma chuvinha morna. Recolheram ao quarto, tomaram banho, vestiram-se, desceram e
almoçaram no Pérgula, o restaurante do hotel com vista para a piscina. Uma extravagância, mas
Cristiane insistiu, apesar de João Pedro ter esboçado uma preocupação.
— Estás a gastar tanto dinheiro...
Ela sorriu, encolheu os ombros.
— Que se lixe — disse. — Não se vem para o Copacabana contar os tostões.
João Pedro riu-se.
— Seja!
— Além disso — acrescentou, segurando-lhe a mão sobre a mesa —, és o meu pintor preferido e
só quero o melhor para ti.
— Não conheces mais nenhum — brincou ele.
— Isso é o que tu julgas. Comprei muitos quadros a um pintor que pintava na rua da minha antiga
casa. Ou achavas que tinhas sido o primeiro a fazer um retrato meu?
— Não me digas!!
— Digo, digo.
— Fui enganado...
Cristiane fez-se triunfante. João Pedro lembrou-se das orgias artísticas que tinham sido aqueles
dias em casa dela.
— Mas, pelo menos, esse génio de rua não te pintou como eu te pintei, pois não?
— Não, isso não!
— Ah! Fico mais descansado.
Cristiane tinha recuperado a boa disposição. Queria beber vinho, reclamava um vinho branco de
qualidade e extremamente caro! Partiam no dia seguinte e era necessário celebrar aquela semana no