Rio. João Pedro concordou, divertido com o capricho dissipador que a fazia feliz. Viu-a assim
radiante e, por momentos, sentiu-se uma besta. Cristiane gastava uma fortuna para lhe proporcionar
umas férias perfeitas e ele passara a manhã a pensar em Carol. Era miserável! Não a merecia. A
partir de agora, decidiu, nem um pensamento para Carol, dedicação total a Cristiane.
Acabaram de almoçar quase às três. Cristiane rubricou a conta com um traço distraído e propôs
que fossem às compras o resto da tarde.
— Temos de ir ver lojas antes de nos irmos embora.
João Pedro fingiu-se entediado com a ideia.
— Anda lá, vais adorar. O Rio tem lojas fantásticas e faz parte, é cultura, ninguém vem a esta
cidade sem conhecer as lojas.
— Ah, se é cultura está bem.
— É, é muito cultural.
— Então, se é obrigatório...
— Isso — disse ela, divertida. — Vou fazer uma orgia de compras! — anunciou.
Foram de táxi ao Shopping Leblon, onde vaguearam longamente pelos corredores, de loja em loja,
vendo tudo sem pressa. Cristiane, muito entusiasmada, ia acumulando sacos que João Pedro
carregava cheio de bonomia. Ele não comprou nada, não era a melhor altura para se meter em
despesas e não queria que Cristiane gastasse mais dinheiro com ele, mas ela sentia-se generosa e
ansiosa por partilhar a sua felicidade. Ofereceu-lhe um belíssimo relógio de marca que teve de o
obrigar a aceitar.
— É para te lembrares de mim sempre que vires as horas — disse, sem querer saber dos protestos
dele.
Era mais do que um presente, pensou João Pedro, era uma declaração de amor.
Deixaram o hotel bem cedo, no dia seguinte. Cristiane voltou a vestir o uniforme de hospedeira de
bordo e João Pedro pensou que regressavam à vida real. Bem, real tanto quanto ele concebia a
realidade por aqueles dias.