Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

grandes projectores em forma de sombrinha, havia um banco alto metálico.


João Pedro observou Carol. Ela vestira uma camisola branca, sem sutiã, que se ajustava ao corpo
salientando-lhe os mamilos, calças de ganga azuis, igualmente justas, e caminhava com uma ligeireza
admirável nos seus ténis brancos.
— É aqui que tudo se passa — disse Carol, erguendo o queixo na direcção do fundo infinito , com
as mãos enfiadas nos bolsos detrás das calças, projectando propositadamente o peito para a frente.
João Pedro fez um aceno de reconhecimento, embora naquele momento estivesse a sentir
dificuldade em tirar os olhos da camisola dela.
— Suponho que queiras umas fotos mais descontraídas — disse Carol.
— Sim, claro, nada muito formal.


A ideia da sessão fotográfica ocorrera-lhe com a mesma naturalidade com que se lembrara de a
contratar para fotografar a inauguração. Podia tê-la convidado simplesmente para tomar um café ou
para um jantar, mas pareceu-lhe uma sensaboria, um programa banal, já um encontro de trabalho teria
mais romance, proporcionar-lhes-ia uma tarde inteira só os dois, estender-se-ia por várias horas de
deliciosa intimidade. Telefonou-lhe, a sua vida estava virada do avesso desde a inauguração, disse-
lhe, eram os jornalistas que não despegavam, as idas à televisão, as polémicas insanas, enfim, o
diabo!
— De maneira que preciso de tirar umas fotografias.
— Ah! Precisas?
— Sim. Vi as tuas, da inauguração, adorei.
— Deveras?
— Deveras.
— Que bom. E precisas das fotografias para quê?
Quase que a via, no outro lado da linha, a morder o labiozinho, cheia de vontade de se rir, a fazer
um esforço para não soltar uma gargalhada nervosa. Era óbvio que João Pedro não precisava das
fotografias para nada, mas não se empenhou muito em improvisar um pretexto plausível. Até era bom
que Carol percebesse de antemão as suas intenções. Ela percebeu, claro, por isso falava naquele tom
alegre, denunciando a leve euforia do coração acelerado numa perspectiva de aventura que já
antecipara em fantasias românticas. De qualquer modo, divertia-se com o atrevimento dele.
— Com esta confusão toda, com a imprensa e isso tudo, dá-me jeito ter umas fotografias. Às vezes,
eles pedem-mas — explicou João Pedro.
— Está bem — assentiu Carol, morta de riso. — Quando queres cá vir?
— Amanhã.
— Amanhã não posso, já tenho um trabalho marcado.
Não tinha nada, mas uma rapariga nunca cedia à primeira proposta, convinha mostrar algum
desprendimento.
— Depois de amanhã, então. — Ela hesitou, simulando uma dificuldade qualquer. — Também não
podes?
— Não sei bem, tinha uma coisa... Deixa-me ver, depois mando-te uma mensagem.
Enviou-lhe a mensagem no outro dia, só à noite, para o fazer esperar. Perguntava-lhe se sempre
queria ir no dia seguinte. Ele respondeu-lhe que sim. Marcou o encontro para as quinze horas.

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