Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Quando Carol lhe perguntou se queria tirar as fotografias em pose mais descontraída, João Pedro
teve vontade de rir. Ela fixou-se nele, desconfiada.
— Que foi?
— Nada — disse ele.
— Mau, o que é que eu disse?
— Nada, a sério.
— De que é que te estás a rir, João Pedro?
— Foi só uma coisa de que me lembrei — disse.
— O quê?
— Nada de especial.
— Conta!
Ele lembrou-se de que fizera uma pergunta semelhante a Cristiane antes de começar a pintar o seu
primeiro retrato.
— E olha como acabou — disse.
— Ah, estou a ver. — Carol observou-o com a cabeça de lado, com um sorriso descarado, um
pensamento atrevido.
— Nã, nã, nã, nem penses nisso — protestou ele, fazendo que não com o dedo.
— Até que não era má ideia, estás enxuto, não tens que te envergonhar.
Ele levou as mãos à barriga.
— Sabes há quanto tempo não faço desporto?
— Não se nota.
— Pois, está bem, mas fiquemos pelas fotografias mais institucionais.
— Tu é que sabes.
— Exacto, eu é que sei.
Ela encolheu os ombros.
— O cliente tem sempre razão — disse.


No fundo, o que aconteceu nessa tarde no estúdio não surpreendeu nenhum dos dois, pois sabiam
que era assim que terminaria, dada a predisposição de ambos para o romance desde a noite em que
se conheceram no Rio de Janeiro. Mais tarde, no seu espírito fatalista, João Pedro pensou que
aconteceu o que tinha de acontecer. Já Carol, pensou que aconteceu o que desejava. E, como tanto um
como o outro tinham a mesma intenção, foi com naturalidade que concretizaram as suas vontades
secretas.


Na primeira hora, Carol impôs seriedade profissional, mantendo uma distância segura, embora
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