Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

partes de um todo, unidos num êxtase feliz.


Mais tarde, vestiram-se, trocando só umas palavras esparsas, mas sem embaraços, desinibidos
como se fossem amantes de longa data. Carol enfiou a camisola pela cabeça, puxou-a para baixo,
ajeitou o cabelo molhado de suor.
— Este estúdio parece uma sauna — disse.
João Pedro acabava de abotoar a camisa. Sorriu.
— A culpa é destas luzes — brincou, apontando com a cabeça para as lâmpadas fortes que
tornavam o estúdio de uma alvura imaculada.
Carol riu-se.
— Pois, a culpa é das luzes — disse.


Foram tomar uma bebida gelada à sombra de uma esplanada fresca, enfim, tão fresca quanto era
possível num dia de quarenta graus. A esplanada ficava num pátio largo nas traseiras de um bloco de
prédios novos, construídos alguns anos após o incêndio do Chiado. Atravessaram um túnel, desde a
Rua Garrett, que desembocava no pátio, sentaram-se, pediram as bebidas.
Sentiam-se bem, realizados, felizes. Não falaram de nada sério, trocaram apenas alguns
comentários jocosos sobre a sessão de fotografias e de como esta tinha acabado. Carol disse que
teria gostado de filmar tudo.
— Porquê? — perguntou João Pedro, espantado.
— Para levar para casa e ver.
— Gostas de ver, é?
— Hum-hum.
Calaram-se quando a empregada colocou os copos em cima da mesa.
— Já fizeste isso antes? — perguntou-lhe depois.
— Não, mas a ideia agrada-me.
— Excita-te?
— Isso.
— É uma fantasia.
— Sim.
— E seria só para veres ou para fazeres mais alguma coisa enquanto vias?
— Provavelmente, faria. Mas preferia ver o filme contigo e fazermos algumas coisas depois.
— Talvez façamos isso um destes dias — disse João Pedro.
— Seria bom.
Ele percebeu que a intenção dela era provocá-lo, mas estava a adorar o jogo.


No fundo, a vida tornou-se um jogo para João Pedro, o exercício de um passatempo agradável a
que se dedica sem se preocupar com as consequências dos seus actos. Mas a realidade está sempre
ao virar da esquina, pronta a surpreender.

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