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Quando Clara regressou de férias do Algarve, telefonou a João Pedro, perplexa com o que lera
sobre ele nos jornais.
— Já sei que tens tido muito sucesso — afirmou.
— Não me posso queixar — disse ele.
— Foi uma mudança radical, das marinhas para os retratos de mulheres nuas.
— Mulher.
— O quê?
— Mulher nua, é só uma.
— Pois, é a tua namorada, não é?
— Hum... é amiga.
Ela soltou uma gargalhada curta, de incredulidade.
— Amiga? Está bem.
— Digamos que é uma amiga especial — acrescentou, sem saber bem o porquê desta necessidade
de se justificar. Reflexo condicionado de muitos anos de casado, talvez.
— Seja o que for, é lá contigo, não tenho nada que ver com isso. Olha, eu vou casar — anunciou-
lhe sem rodeios.
João Pedro engoliu em seco.
— Uau! Não perdeste tempo.
— Tu também não, pelo que percebi.
— Eu não vou casar — objectou, quase indignado.
— Sim, mas não tens estado, propriamente, num convento.
— É diferente. Quando é que é o casamento?
— Ainda não sei. Em breve. Quando for, digo-te.
— Convidas-me? — gracejou, embora não tivesse vontade nenhuma de se rir com o assunto.
— Que engraçado.
— Quem é ele?
Clara disse-lhe. João Pedro ficou boquiaberto.
— Mas, ele não é casado?
— Agora é separado, está a divorciar-se.
— Desde quando?
— Desde quando, o quê?
— Desde quando é que está separado?
— Sei lá, há coisa de um mês. E os miúdos, não queres vê-los? — perguntou-lhe, bruscamente. O
seu tom de voz denunciou um certo embaraço, um desejo de mudar de assunto.
— Claro que quero.