Um Homem Escandaloso

excitação que tornava tudo o mais irrisório. Ela, conhecedora das fraquezas masculinas, insinuou-se-
lhe airosa e sensual. Trazia shorts de ganga justos e uma camisa às riscas brancas e azuis com um
decote magnânimo que o impedia de pensar com inteligência. João Pedro seguiu, com olhos
vidrados, os gestos delicados dela, prendendo o cabelo fino e macio atrás da orelha, revelando o
pescoço alvo onde há pouco, passando por ela, sentira um perfume mágico que o apaixonara. Carol
falava com gosto do seu trabalho, das pessoas que fotografava no estúdio, e João Pedro fixava-se nos
lábios dela, deleitado. A sua expressão era atenta, o seu espírito vagueava por pensamentos
concupiscentes.
Acabava justamente de se levantar para ir fazer o café quando se ouviu o toque da campainha da
porta. Olharam-se em silêncio, João Pedro de pé com os pratos sujos na mão, Carol sentada a
estender a mão para a garrafa de vinho. Ela, surpreendida, esticou o pescoço, abriu muito os olhos,
ele voltou a colocar os pratos na mesa.
— Quem será? — perguntou-se, num sussurro cómico, como um miúdo travesso que alguém viesse
apanhar em falta.
Carol franziu os lábios num espanto malicioso.
— Não sei — disse, embora estivessem ambos a pensar que só podia ser uma pessoa.
Rebentaram a rir, baixinho.
João Pedro dirigiu-se à porta, exagerando os passos cautelosos, em bicos dos pés, parecia que ia
só espreitar para ver quem era. Levava um grande sorriso atoleimado.