— Quando?
Cristiane ergueu os olhos para o tecto, fez uma cara engraçada, fingindo que consultava a sua
agenda de memória.
— Deixa ver... amanhã tenho a manhã livre.
— Combinado — afirmou ele, determinado.
— A sério?! — esganiçou-se, radiante.
— A sério.
João Pedro fez um sorriso complacente, Cristiane estava feliz como uma criança que recebera um
presente muito cobiçado.
— Nesse caso — disse — tenho de ir dormir para amanhã estar em forma, sem papos debaixo dos
olhos, e essas coisas.
Despediram-se com um beijo jovial, sem excessos de intimidade.
João Pedro fechou a porta, lançou ao ar um punho de triunfo, abriu muito a boca e os olhos com
uma gargalhada muda, extasiado, deu uns passinhos de dança, foi apagar as velas e as luzes da sala a
cantarolar como um tolo. Não arrumou a loiça do jantar. Subiu ao andar de cima, foi directo para a
casa de banho tomar um duche de água fria.
Nessa noite dormiu pouco, pois tinha a cabeça às voltas, a imaginar o que estaria Cristiane a
pensar, ali tão perto, na cama dela; a antecipar os primeiros traços do retrato que iria pintar amanhã.
Entrou pela madrugada em branco e, quando finalmente adormeceu, não sonhou com nada, aliás, nos
meses vindouros nunca mais sonhou, o que fazia sentido, dado que já vivia um sonho. Aquilo que lhe
estava a acontecer, pensou, era a quinta-essência do seu sonho realizado. O que João Pedro não
supunha é que aquilo ainda era só o princípio.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1