plástico. Estás a referir-te à baixa cultura, de estética duvidosa.
— Sim, mas imagina que pegamos nos elementos dessa estética duvidosa e retratamos a baixa
cultura numa obra de arte de primeira água. Não vês? Estás coberta de comida de plástico!
Cristiane sorriu.
— Gosto — disse. — Gosto.
E este foi o último dos oito retratos dela que João Pedro pintou. Cristiane delirava com ideias
malucas e subversivas e, também por isso, alinhava com as excentricidades dele. Sujeitava-se a
horas de imobilidade para obsequiar o seu trabalho e aproveitava os momentos em que ele não
precisava dela para ir desencaixotar livros e colocá-los nas estantes do corredor, arrumar a loiça nos
armários da cozinha, ligar os fios do computador e da televisão. Arrumou a casa toda, menos a sala,
que se manteve vazia, só com a cama de bambu e o material de pintura de João Pedro. Mas as férias
estavam a chegar ao fim e dentro de dois dias já tinha um voo marcado para o Rio de Janeiro.