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Numa dessas noites, entraram num restaurante a uma hora tardia. Na realidade, tratava-se de um
bar onde serviam refeições ligeiras e havia música ao vivo. Ficava ali perto do hotel e foi o único a
que foram sem Cristiane conhecer, porque não tinham nada planeado. Decidiram ir ao acaso pela rua
e descobrirem um restaurante que lhes agradasse para jantar. Aquele chamou-lhes à atenção por
parecer animado. Decidiram entrar para dar uma olhadela e perguntar se havia mesa. Não havia,
estavam todas ocupadas. O empregado que os atendeu sugeriu-lhes que se sentassem ao balcão. Eles
hesitaram, a pensar que talvez encontrassem outro restaurante onde pudessem ficar numa mesa. Seria
mais cómodo. Mas o empregado insistiu, era muito prestável e derramava simpatia sobre eles com
um sorriso aberto e uma vontade de os cativar desarmante. Sentiram-se reféns da simpatia do homem
e acabaram por ficar. Porém, depois o serviço não foi tão bom como prometia. Alguns restaurantes
brasileiros menos sofisticados tinham esta característica desconcertante: era-se recebido como um
rei, e, depois de sentado, abandonado à sua sorte. João Pedro e Cristiane tiveram de batalhar para
serem servidos, mas como estavam de férias e felizes não deixaram que o serviço desastroso lhes
estragasse a boa disposição. De qualquer modo, não se comia mal e o ambiente tornou-se bastante
divertido com o andar da noite. Quando a banda começou a tocar músicas brasileiras conhecidas, a
sala irrompeu num coro festivo a acompanhar os músicos e eles alinharam com as suas vozes
terríveis, mas empenhadas.
João Pedro fartou-se de beber e de cantar, desinibido como nunca. Foi pedindo caipirinhas para os
dois, umas a seguir às outras, e riam-se sem parar dos disparates que diziam e que, na vertigem da
cachaça, lhes pareciam muito mais cómicas do que provavelmente seriam. Cristiane levantou-se,
«vou à casa de banho», disse. João Pedro ficou a vê-la afastar-se ao longo do balcão. Observou a
sala em redor. A banda acabara a sua actuação e fora substituída pelo DJ de serviço. Ao fundo, as
pessoas dançavam num espaço apertado para lá da zona das mesas. As vozes que se elevavam para
se fazerem ouvir sobre a música alta, as luzes coloridas que piscavam freneticamente, todo aquele
ambiente invadia-lhe a cabeça, dando-lhe a sensação de um carrossel. Estou mesmo bêbado , pensou,
com um sorriso apalermado, achando muita graça a tudo.
— Não se pode ir a lado nenhum, que não se encontre um português — ouviu dizer atrás de si.
Rodou no banco e lá estava ela! Pasmou. Era tal e qual como a sonhara: aloirada, olhos azuis, nariz
arrebitado, feições bonitas.
— É verdade — disse, passado o choque. — E você, como é que se chama?
— Carolina, mas chamam-me Carol — respondeu, debruçada sobre o balcão, com a cabeça
deitada na palma da mão, cotovelo apoiado no tampo, olhando-o de lado, relaxada, provocadora.
— João Pedro — apresentou-se, estendendo-lhe a mão num jeito brincalhão.
— Prazer em conhecê-lo — disse ela, tornando-se séria, apertando-lhe a mão com formalidade,