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Catarina fechou a torneira do chuveiro após uns longos vinte minutos
descongelando debaixo do forte jato de água quente. Por cima da sua cabeça,
o chuveiro fechou, mas continuou pingando numa cadência certa. Catarina já
chorara o que tinha para chorar e sentia-se apenas vazia. Abriu a divisória de
vidro transparente da banheira, apanhou uma toalha e saiu por entre uma
nuvem de vapor, colocando-se em cima do tapete de pano, diante do espelho
embaciado por cima do lavatório. Limpou o espelho com a palma da mão e
foi-se descobrindo à medida que afastava a película de água evaporada da
superfície fria do vidro. O rosto, os seios, a barriga, estavam rosados por
causa do banho quente. Enrolou a toalha no corpo e entalou-a por debaixo dos
braços, de modo a ficar toda coberta. Em seguida, arranjou uma toalha menor
para o cabelo. Esfregou com vigor os caracóis louros que escorriam água, e
enrolou a toalha na cabeça como se fosse um turbante. Foi para o quarto
acabar de se secar, vestiu a calcinha, um sutiã e voltou ao banheiro, onde se
entregou à demorada tarefa de secar o cabelo com o potente secador de
parede. E, enquanto o fazia, pensava em Jonas e na jovem loira que se
encontrava com ele no teatro da Times Square. Felizmente, Jonas não chegou
a saber que ela estava lá, não reparou nela quando entrara na sala escura.
Catarina vira-o ao fundo, com os músicos, rodeados dos instrumentos, e, ao
avistá-lo, sentira-se feliz, o medo desaparecera e acreditara que iria correr
tudo bem. Pensou na cara que ele iria fazer quando a visse surgir da escuridão
da sala, à sua frente, debaixo dos holofotes. Começou a ir ao encontro dele,
mas, subitamente, viu-o atravessar o palco e parar junto de uma jovem loira,
cuja presença Catarina não tinha notado. Jonas beijara-a, ao mesmo tempo
que lhe fazia um carinho e dava um sorriso cúmplice. Catarina sentiu o
mundo do avesso naquele momento estranho, como se fosse desmaiar, e, por
qualquer razão inexplicável, a sua aflição imediata não foi a traição dele, mas
a vergonha de ser vista por alguém, o constrangimento de estar ali a mais, de
ser vista pelas pessoas como uma intrusa não desejada e passar pela
humilhação de ser mandada embora com uma despedida apaziguadora,
debaixo dos olhares piedosos de todos. Sentira-se como uma criança
apanhada fazendo travessura. Ficara gelada, com o coração parado numa
angústia, sem respirar, antes de começar a retirar-se silenciosamente recuando
e, finalmente, dar meia-volta e sair da sala, sempre com um calafrio de receio
que alguém desse por ela e ouvisse chamar por si nas suas costas.