Andara perambulando pela cidade durante quase duas horas, sem saber o que
pensar, o que fazer. Caminhara ao acaso, desorientada, enregelada, lívida,
seguindo a corrente humana que fluía no passeio, parando automaticamente
quando o sinal estava vermelho para os peões atravessarem a rua,
recomeçando a andar com a massa de transeuntes, à mudança para verde. Não
saberia dizer quantas ruas percorreu nem como foi parar à porta do seu hotel.
Talvez tivesse chegado lá por instinto, talvez tivesse sido mero acaso. Só se
lembrava de ter levantado os olhos e reparar que chegara ao único destino
possível em Nova York. Entretanto, vagueara ao cair da noite com o peso da
terrível mágoa de ter sido preterida, de ter sido rejeitada em favor de outra
mulher. Quisera perder a compostura, gritar como se fosse doida, expulsar de
si a frustração, a impotência de não poder fazer nada para alterar a realidade
que lhe feria a alma. Mas sentia-se débil e incapaz de reagir fisicamente à
tristeza que a assolara com a surpresa de uma desgraça irremediável.
Lembrou-se de Ricardo e pensou “oh, meu Deus! Será que ele passou pelo
mesmo por minha causa?” Pensou que o tinha deixado e que estava sozinha,
não tinha ninguém. A solidão caiu-lhe em cima como uma nuvem cinzenta.
Sentiu-se tão fraca, com as pernas cedendo, entrou no hotel e abateu-se sem
forças num cadeirão no hall. Um empregado preocupado acercou-se dela e
perguntou-lhe se sentia-se bem, respondeu-lhe com um aceno de cabeça
assombrado e ele viu um fantasma a fazer-lhe que sim sem dizer uma palavra.
O empregado retirou-se e Catarina ficou pensando “não, não me sinto nada
bem!” Estava em Nova York, perdida no mundo, à beira do pânico, como
nunca lhe acontecera, arrasada por um sentimento lúgubre, por uma tristeza
sem nome, que nunca imaginara que um dia viria a sentir.
Agora, no quarto, mais calma, procurava ser racional e convencer-se a si
própria de que haveria de ultrapassar a desilusão, que a culpa era sua, por ter
sido negligente com a vida, ter sido irresponsável ao colocar a sua felicidade
nas mãos de Jonas, por ter confiado nele sem prever um revés. Procurava
convencer-se de que, no fundo, tinha sido melhor assim. Jonas não era a
pessoa certa para ela, vivia em outro mundo e nunca lhe seria fiel. Sabia disso
desde o início, mas, ainda assim, estivera disposta a fazer tudo por ele,
incapaz de se render e desistir de tê-lo. Colocou o secador em cima do tampo
do lavatório, viu-se no espelho, os seus caracóis secos já tinham ganhado
volume novamente. “Queria-o tanto”, pensou, “e o sacana traiu-me outra
vez...”