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Sentado à sua já habitual mesa do bar do hotel, ao lado da janela sobre Nova
York, Filipe levantou a cabeça e espreitou por cima da tela do computador
portátil, atraído pelo movimento de alguém que entrava na sala. A mulher de
vestido e caracóis louros passou por ele, deixando um suave e agradável rasto
de perfume, de que Filipe gostou, mas não soube identificar. Ela foi sentar-se
ao balcão, de costas para Filipe. Reparou nela, observou-a, era jovem e
bonita, embora não lhe parecesse estar nada feliz. O empregado aproximou-se
dela pelo lado de dentro do balcão, perguntou-lhe o que desejava, trouxe-lhe
uma vodca tônica que ela bebericou com parcimônia, voltando-se então para
trás e relanceando os olhos pela sala enquanto dava um gole. Por alguma
razão que Filipe não entendeu, os olhos dela ficaram presos nele e, em
seguida, surpreendendo-o, escorregou do banco alto em que se encontrava
sentada e foi ao seu encontro.
– É a segunda vez que nos cruzamos hoje – anunciou-lhe, e, ao ouvi-la falar
em português, Filipe compreendeu o interesse dela em si. Obviamente,
reconhecera-o.
– A segunda vez? – espantou-se, fazendo um meio sorriso incrédulo.
– Sim – confirmou ela. – À entrada do Empire State Building esta tarde, ia
com pressa e quase chocou comigo, não se lembra?
Ele recostou-se na cadeira como que para observá-la melhor ao lusco-fusco
da sala, esfregou a cabeça com a mão, fez uma expressão engraçada,
embaraçada, abanou a cabeça.
– Não – confessou. – Mas eu sou um bocado distraído e ia com pressa, de
fato.
– E eu estava com outra roupa – disse Catarina, oferecendo-lhe mais um
argumento para não se lembrar dela.
– Ah! – exclamou Filipe, sorrindo. – É por isso.
Ela sorriu também e depois pareceu ficar pouco à vontade ali de pé
iniciando conversa com ele. Apontou para trás, para o balcão.
– Vou voltar para o meu lugar – disse. – Peço desculpa por tê-lo
interrompido.
– Não, não, de maneira nenhuma, não interrompeu nada – apressou-se