Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

Filipe na resposta. – Não se quer sentar?


– Não o incomodo, tem certeza?
– Não incomoda nada, até gosto. Já estou sem companhia há tanto tempo
que ainda começo a falar sozinho.


Ela sentou-se, colocou o copo na mesa, apresentou-se, “me chamo Catarina
Trindade”, disse, “e também me faz companhia”. Houve um hiato na
conversa, um silêncio, e depois falaram os dois ao mesmo tempo, ele
perguntando “veio a trabalho?”, ela erguendo a cabeça, apontando com o
queixo para o computador e perguntando se era um livro novo que tinha ali.
Sorriram.


– Não – respondeu Filipe –, o novo já está acabado. E você, está aqui a
trabalho?


– Não – abanou a cabeça. – Estou aqui porque sou estúpida – ouviu-se
dizendo. Depois fechou os olhos com força, arrependida por ter falado sem
pensar.


– Deixa pra lá – disse Filipe. – Eu também.
Catarina sorriu.
– Também está aqui por estupidez?
– Mais ou menos – respondeu, sem querer alongar-se sobre o assunto.
Ela abanou a cabeça, compreensiva.
– O que é que você faz? – perguntou Filipe.
– Sou jornalista.
Ele revirou os olhos ao ouvi-la, fazendo uma expressão cômica. Catarina
ergueu uma mão em sinal de paz.


– Não se preocupe – disse, tranquilizadora. – Não estou em serviço e, como
se diz por estas bandas, o que acontece em Vegas fica em Vegas.


–   Mas isto    é   Nova    York!   –   reclamou    ele,    divertido.
– Fazemos de conta.

Uma hora da madrugada. Catarina já ia na terceira vodca e Filipe levava a
mesma conta em uísques. Ela, com a cabeça apoiada na palma da mão e o
cotovelo apoiado na mesa, ouviu-o perguntar-lhe “afinal de contas, qual foi a

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