estupidez que a trouxe a Nova York?” Catarina hesitou, consultou
ostensivamente o relógio, quis saber se estavam na hora das confissões. Filipe
encolheu os ombros, “o que acontece em Vegas fica em Vegas”, lembrou-lhe.
Ela achou engraçado, esboçou um sorriso que logo lhe morreu nos lábios.
– O que me traz a Nova York? – considerou a pergunta. – O amor – acabou
por dizer. – Não correspondido – acrescentou.
Filipe acendeu um cigarro, cerrou os olhos por causa da fumaça.
– Tem piada – disse. – Eu também, mas com alguns anos de atraso.
O rosto dela abriu-se num sorriso.
– Aposto que a sua história é mais interessante do que a minha – disse. –
Digna de um livro?
– Quase – reconheceu.
– Vai contar-me ou tenho de implorar?
– Há alguns anos, marquei um encontro com a mulher da minha vida no
Empire State Building. Eu vim, ela não. É isto. Agora a sua.
– O homem da minha vida disse-me para vir ter com ele em Nova York. Eu
vim, mas ele estava com outra. É isto.
Filipe soltou uma gargalhada curta.
– Estamos bem um para o outro – disse.
– Sim, estamos – reconheceu Catarina.
– Para ser honesto – disse Filipe, pensativo –, não vim ter com a mulher da
minha vida, vim atrás de uma ilusão. Ela despedaçou-me o coração há uns
anos, suponho que já não precisava de mim.
– Deixou-o?
– Deixou.
– Não é o que fazemos todos uns aos outros?
– Deixar o outro quando já não precisamos?
– Sim.
– Não sei, talvez, se quisermos encarar a vida com cinismo.
Fez-se um silêncio, Catarina ponderou as palavras dele.
– O amor é interesseiro – afirmou, categórica.