Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Isabel se pegou pensando em Rui várias vezes, sonhadora, lembrando-se da
noite anterior. Mas encarou-o só como uma fantasia, pois tinha a sua vida, o
namorado, não estava considerando mudar nada. Contudo, no fim da semana,
Rui surpreendeu-a com um telefonema. Ela adorou, especialmente porque não
lhe tinha dado o número, nem ele o pedira. Ainda assim, Rui conseguiu
descobri-lo. Convidou-a para ir ao cinema. Ela aceitou sem hesitar, sem
ponderar bem as implicações do que estava prestes a fazer. Procurou
convencer-se de que era só um cinema e não havia nada de mal nisso, mas, ao
desligar, pensou no que haveria de dizer ao namorado. Acabou por telefonar e
deu-lhe uma desculpa para não sair com ele. Sendo sexta-feira, era isso que
supostamente deveria acontecer, mas Isabel disse-lhe que não se sentia bem e
iria deitar-se cedo. “Qual é o problema?”, interrogou-se, “vou só ao cinema”.
Mas sabia que estava tentando se enganar, pois já começara a mentir por
causa de Rui.


Depois do cinema seguiram-se vários encontros mais ou menos furtivos,
para tomar um café, para falar um bocadinho, para estar com ele. Fizeram
amor pela primeira vez na casa do Rui, depois de um jantar a dois num
restaurante perto. Ele convidou-a para o seu apartamento, ela aceitou. No dia
seguinte, telefonou para o namorado e acabou tudo com ele.


Isabel teve de se sentar no rebordo da banheira. As pernas fraquejaram-lhe, as
mãos tremeram-lhe, lívida. Vinha da farmácia, fechou-se no banheiro.
Desconfiada de que havia algo errado, decidiu não adiar mais a incerteza que
a inquietava há vários dias. Com o resultado do teste à sua frente, as dúvidas
desfeitas, sentiu um arrepio, uma fraqueza, não tanto pela sua condição, mas
por recear a reação de Rui. E se ele a deixasse? Se a acusasse de tê-lo
enganado, de tê-lo levado a uma armadilha inadmissível? Recordava-se
perfeitamente de terem conversado sobre o desejo de terem filhos. Ele dissera,
sim, claro que quero ter filhos, mas não nos próximos dois anos. Ainda tenho
muitas coisas para fazer antes disso. Em contrapartida, ela confessara que não
se importaria de ter um bebê mais cedo do que isso.


– Mas você nem sequer é casada – lembrou-lhe ele.
– Pois não – respondeu. – Estou só dizendo que não me importaria de ter
um filho com a idade que tenho, mas sei que ainda não tenho vida para isso.

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