ou, pelo menos, não sabia o quê, pois ele não se queixava de nada, e ela não
imaginava o que pudesse ter feito para tratá-la com uma indiferença que a
magoava. Hoje em dia, chegar a ele era o mesmo que escalar uma montanha
cujo topo não conseguia alcançar. Rui tinha a sua vida, planejava suas
viagens, cada vez mais frequentes, comunicava-lhe a partida na véspera e era
tudo. Se Isabel reclamava, a conversa acabava invariavelmente numa
discussão sem saída.
Rui fechou a mala, vestiu o casaco, disse que telefonava quando chegasse em
Nova York, deu-lhe um beijo na testa, levou a mala. Passou pelo quarto da
filha para vê-la e dar-lhe também um beijo de despedida. Depois foi embora.
Isabel ouviu a porta da rua bater, deitou-se de lado, ainda agarrada à
almofada, de olhos abertos. Os números do relógio do rádio na mesinha de
cabeceira diziam-lhe que eram cinco e meia da manhã. Quis dormir, mas a
perturbação, o aperto no peito, a angústia que a envolvia, o negro véu de
tristeza que a assombrava ao ponto de afetá-la fisicamente não a deixaram
voltar a adormecer. Embora cansada, ficou o resto da madrugada presa a uma
preocupação, pensando mais uma vez no que poderia fazer para recuperá-lo.
Não queria admitir que o seu casamento tinha acabado, mas reconhecia os
sinais do fim.
Rui não cumpriu a promessa de lhe telefonar à chegada a Nova York, enviou-
lhe apenas uma mensagem sucinta:
Cheguei. Tudo bem.