Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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O aeroporto estava pouco movimentado às dez e quinze da noite. Isabel
consultou o quadro das chegadas e confirmou a aterrissagem do avião de Rui
com cinco minutos de atraso. Dava a mão a Joana, aos pulos de excitação ao
seu lado, envergando um sobretudo azul-cinzento por cima de um vestido
para as ocasiões especiais, bem penteada, com duas presilhas coloridas
prendendo-lhe o cabelo. A pequena estava irrequieta porque o pai estava
chegando, porque não costumava sair à noite. Isabel reparou num grupo de
jovens posicionado ao fundo da rampa de saída dos passageiros. Eram cerca
de vinte e tinham cartazes de boas-vindas para alguém que devia estar
chegando. De vez em quando, a porta automática abria-se para deixar passar
passageiros provenientes da área da esteira empurrando os carrinhos com as
malas. Os passageiros saíam espaçadamente, Joana perguntava onde estava o
pai, quando é que ele vinha? Isabel respondia-lhe daqui a pouco. Um
funcionário num carro de limpeza avançava devagar ao longo do hall. Um
jovem deitado num banco gasto com a mochila servindo de almofada dormia
à frente delas. Isabel sentia-se apreensiva, imaginava como seria o reencontro,
como seria o comportamento de Rui. Tinham voltado a falar mais duas vezes,
quando ele chegara a Londres e no dia anterior, para lhe comunicar a que
horas chegaria em Lisboa, e, em ambas as ocasiões, trocaram apenas algumas
palavras práticas, evitaram o assunto que nenhum dos dois esquecera.


Um grupo de dez jovens envergando camisetas brancas surgiu pela porta de
abertura automática e foi recebido com uma festa improvisada pelo outro
grupo que o aguardava ao fundo da rampa. Rui apareceu atrás dos jovens, viu-
as, acenou-lhes, voltou à esquerda e começou a descer a rampa. Elas
acompanharam-no no percurso pelo lado de fora do corrimão, entraram pelo
grupo ruidoso, encontraram-se no meio do caminho, rodeados de gente aos
gritos, Rui abaixou-se, pegou a filha no colo, deu um beijo em Isabel,
empurrou o carrinho da bagagem para longe da confusão. A ela, pareceu-lhe
ver nele uma expressão comprometida quando os seus olhos se encontraram,
mas falaram normalmente. “Como correu a viagem?”, perguntou-lhe.
“Cansativa”, respondeu ele. Dirigiram-se para a saída, em direção ao
estacionamento onde Isabel deixara o carro.


Uma mulher desceu sozinha a rampa, empurrando o seu carrinho da
bagagem. Era morena, cabelo liso pelos ombros, trazia uma saia que deixava

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