sentir derrotada. Dissera que o amava e, ao mesmo tempo, abandonara-o.
Sabia que Filipe nunca entenderia a sua decisão. Não fora capaz de ser direta
com ele, de lhe explicar, mas, por outro lado, achava, ele tinha obrigação de
conhecê-la e perceber as razões dela sem precisar de uma explicação direta.
Isabel desfizera em poucas semanas uma relação construída sem pressa, passo
a passo, que tivera de ultrapassar a desconfiança dela, vencida pela paciente
dedicação dele. No fim, levada pela ansiedade de romper com o passado,
tomara-se de coragem, recusara-se a vê-lo e derrotara-o pela desilusão. Fosse
como fosse, tinha feito a sua escolha e, mesmo se quisesse, não poderia
desfazê-la.
Filipe encontrou-a dois meses depois da separação, por acaso, num centro
comercial. Viu-a ao longe, saindo de uma loja, e o seu primeiro impulso foi
precipitar-se para lhe falar, mas, num segundo momento, surpreendeu-se
paralisado por um pensamento fulminante: não conseguia ir ter com ela e
abordá-la com a naturalidade de simples amigos. A dedicação à pessoa que
amamos, a nossa preocupação com ela, com o seu bem-estar, com a sua
felicidade, o tempo que gastamos pensando nela ao longo do dia, a
necessidade de falar com ela, de fazer amor com ela, de aparecer de surpresa
e ver os seus olhos brilharem de alegria, de ver um sorriso, de consolar uma
tristeza, de fazê-la feliz, a entrega sem reservas a essa pessoa torna-a o centro
da nossa vida. Se a perdemos, a nossa vida dissipa-se nessa desgraça. Filipe
não sabia, não imaginava o poder destrutivo que uma pessoa nessa situação
tinha sobre a outra, nunca passara por aquilo, nunca fora deixado por
nenhuma mulher que amasse o suficiente para se incomodar seriamente com a
separação. Em contrapartida, no passado, deixara algumas almas arrasadas
pelo caminho e tivera sempre o desespero delas na conta de uma lamechice
insuportável. Agora, porém, tomava consciência do que elas haviam sentido
por sua causa.
Os nossos sentimentos pela pessoa que amamos são sempre egoístas porque
só tratam da nossa felicidade, mesmo se lhe oferecemos incondicionalmente o
nosso mundo inteiro e vivemos para ela enquanto estamos apaixonados; um
dia, se deixamos de sentir esse amor, se deixamos de precisar dela, nesse
exato instante partimos com pressa e sem olhar para trás. Partimos sem dor –
sem a nossa dor, pelo menos –, como se não houvesse uma história, como se
não lhe tivéssemos jurado o nosso amor, como se nunca tivéssemos precisado
dela realmente e tudo tivesse sido uma representação, sabe, coisas que se
dizem para ganhar vantagem emocional. Acreditou em tudo o que te disse?
Desculpa, mas não sou a alma boa que pensava que eu fosse, eu te avisei,