Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Ficaram assim, Filipe e Isabel, enredados num impasse que redundou num
equívoco. Ele, pensando que ela já não o amava; ela, duvidando da
determinação dele, acreditando que, no fundo, Filipe não tencionava
realmente divorciar-se, mas apenas evitar com promessas vãs que se
separassem.


A relação deles, pelo seu caráter secreto, nem sempre tinha sido fácil,
minava a paixão, a possibilidade de estarem juntos de fato. Isabel aguentara
estoicamente, sempre esperançosa de que Filipe tomasse uma atitude, saísse
de casa e se dedicasse a ela finalmente, sem condicionantes, sem segredos.
Não lhe dizia, mas sentia-se a segunda mulher, o brinquedo para ele se
divertir à margem da sua aparentemente imaculada vida familiar. Crescia nela
uma incerteza, não estava convencida de que Filipe a amasse de fato, caso
contrário, pensava, já teria deixado a mulher. Isabel começou a refletir nisso
numa tarde após o trabalho. Estava sentada numa esplanada, bebendo um café
num dia ensolarado, porém frio de inverno. Perguntou a si própria se devia
sentir-se responsável caso Filipe desfizesse a sua família para ficar com ela,
se realmente se importava com a mulher dele. Não a conhecia, não eram
amigas, nunca a vira, mas ela existia e tinha um lugar na vida de Filipe. De
fato, ela tinha prioridade na vida de Filipe e, provavelmente, ele não a
deixaria nunca. E, sim, incomodava-a ser responsável pelo seu divórcio, se
acontecesse, mas não, não desistiria dele por isso.


À medida que os meses passavam, Isabel ia acumulando dúvidas no seu
espírito, ganhava consistência a ideia de a relação deles não ter futuro. Já
Filipe preferia não pensar nisso, amava Isabel e sabia que um dia teria de
fazer uma escolha, tomar uma decisão, mas ainda não se sentia preparado
para isso. Precisava de tempo.


Patrícia estava de plantão no hospital quando recebeu a chamada urgente e as
palavras que ouviu deixaram-na apavorada. Era da escola. O seu filho mais
novo sofrera uma queda, disseram-lhe, ficara vários minutos inconsciente. Ia
a caminho do hospital. Foi um choque. Patrícia dirigiu-se imediatamente para
a entrada da Emergência com as pernas tremendo, o coração acelerado, uma
angústia no peito. A ambulância deveria chegar dentro de dez minutos. Foram
os dez minutos mais terríveis da sua vida. Patrícia teve de apelar a todo o seu

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