“não, a minha vida mexe-se sem ti”. Sabia como isso se revelara tão acertado,
apesar de ter passado anos evitando pensar em Isabel, seguindo o seu caminho
fazendo de conta que ela não existia e que eles não tinham sido mais do que
um encontro circunstancial entre dois mundos diferentes. Naquele instante,
abateu-se sobre ele o peso de oito anos vazios e decidiu que não poderia
continuar assim, enganando a si próprio, achando que era possível viver sem
amor. Acontecesse o que acontecesse, quando voltasse a Lisboa, pediria o
divórcio. Antes, conseguira continuar vivendo sem amar, sem se questionar,
mas agora seria diferente. Depois lhe ocorreu uma verdade catastrófica: e se
Isabel tivesse ido ao seu encontro? Se estivesse naquele preciso momento no
Empire State Building? Como poderia ele viver o resto da vida com essa
dúvida? Sem saber?
– Desço aqui! – gritou ao motorista.
– Como, desce aqui? – espantou-se o homem. – Ainda estamos longe do
hotel, senhor.
– Não interessa, não vou para o hotel. Tenho um encontro marcado no lugar
de onde viemos.
– Está tudo louco – resmungou o motorista.
Filipe atirou-lhe uma nota, abriu a porta, voltou para trás. Olhou para o
relógio, verificou horrorizado que já eram quase cinco e dez. Acelerou o
passo, atravessou a rua, não se conteve e começou a correr.
Chegou à porta do Empire State Building e quase esbarrou com uma mulher
jovem que saía. Esta voltou-se, espantada, quando ele lhe pediu desculpa sem
reparar que falava em português. Depois Filipe entrou no edifício e pegou o
elevador para o terraço de observação.