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Catarina ficou ali parada, vendo Filipe desaparecer no interior do Empire
State Building. “Hoje é o meu dia de encontrar portugueses famosos em Nova
York”, pensou. Por momentos, teve a sensação de conhecê-lo e, se Filipe não
tivesse passado por ela tão apressado, teria lhe cumprimentado como se fosse
um amigo. Só depois reparou no erro. Reconhecera-o, não por ser um amigo,
mas por ser uma cara conhecida. Catarina já lera vários livros de Filipe e
sabia perfeitamente quem ele era. Até já escrevera um artigo sobre o seu
trabalho. Fora uma coincidência incrível, esbarrar com ele em Nova York.
Mais tarde pensou que se tivesse tido oportunidade de falar com ele, teria
tentado convencê-lo a dar-lhe uma entrevista.
Catarina era jornalista em Lisboa e viera a Nova York atrás de uma ilusão,
talvez. Agarrou nas abas do casaco e fechou-o para se proteger do frio
cortante do final da tarde. Serpenteou por entre a multidão, adorava aquela
cidade, especialmente na época natalina, mas era a primeira vez que vinha
sozinha. Jonas insistira tanto que viesse ao seu encontro... Agora não tinha
tanta certeza se fizera bem, mas, enfim, já estava lá, era um bocadinho tarde
para se arrepender. Se bem que ele não sabia. Não o informara da sua vinda,
limitara-se a comprar o bilhete de avião e a atravessar o Atlântico. Foi
andando sem pressa, Manhattan era plana e uma pessoa podia caminhar o dia
todo a pé sem se cansar. Imaginou a cara de Jonas quando a visse mais tarde.
Seria uma boa surpresa.
Tinham-se conhecido há um ano e dois meses. Sabia a data de cor. Catarina
trabalhava no jornal, onde estava escalada na seção que fazia uma revista
semanal. Fora designada para entrevistar Jonas por conta do seu primeiro
concerto solo, depois de se ter separado do grupo que liderara durante seis
anos. Era um concerto importante para Jonas, no Coliseu dos Recreios, a sala
de espectáculos mais mítica do país, um salto enorme se tudo corresse bem.
Catarina foi conduzida até às primeiras filas da plateia, convidada a sentar-
se e deixada à espera, enquanto decorria o ensaio. Jonas cantava uma canção
de amor quando Catarina entrou e, ao reparar nela, foi sentar-se na borda do
palco e cantou para ela, concentrado nela, pela primeira vez, sem conhecê-la.
Foi um daqueles momentos únicos, que ficam para a vida, porém embaraçoso.
Na época, Catarina sentiu-se intimidada, mas depois o guardaria como uma