Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

boa recordação. Como resultado desse embaraço, a entrevista não foi a
conversa agradável que ela esperava, mas antes uma troca de impressões algo
estranha. Ele desinibido e desconcertante, ela na defensiva, tentando manter
uma atitude profissional e distante.


Jonas telefonou-lhe inesperadamente no jornal alguns dias mais tarde.
Apanhou-a concentrada escrevendo uma notícia. Alguém gritou “Catarina,
telefone para ti”, passando a chamada para a sua mesa. Ela atendeu distraída e
não reconheceu a voz de primeira.


– É só para dizer que gostei muito do artigo – disse ele.
– Quem fala?
– Ora, quem fala. Sou eu, o Jonas, minha querida.
– Ah, sim...
Catarina parou o que estava fazendo, por instantes sem reação, sem saber
bem o que dizer, mas com a certeza de odiar aquele tratamento familiar, pior
ainda, aquela familiaridade paternalista. Sentiu-se corar, em ebulição por
dentro, respondendo-lhe, contudo, num tom distante, o mais impessoal e o
mais gelado possível.


– Ainda bem que o artigo lhe agradou – disse.
– Estava ótimo, muito bem escrito. Só um reparo, da próxima vez que
escrever sobre mim, não me descreva como uma promessa da nova música
portuguesa. Eu não sou uma promessa, sou uma certeza.


– Observação anotada – retorquiu Catarina. – Posso fazer mais alguma
coisa por você?


– Por acaso, até pode.
– O quê, diga lá.
– Pode vir jantar comigo.
– Lamento, mas isso não faz parte das minhas atribuições profissionais.
– E quem é que está falando de trabalho, minha querida?
– Jonas, Jonas, eu não sou a sua querida, nem tampouco uma das suas fãs
adolescentes que se derretem por você e saltam quando você estala os dedos.
Por isso, o jantar está fora de questão.


– Observação anotada – respondeu Jonas, imitando as palavras dela sem se
mostrar vexado com a reprovação.

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