Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Hoje em dia, Catarina reconhecia que a persistência de Jonas tinha dado os
seus frutos, enquanto ele pensava que valera a pena não ter desistido, apesar
de ela o ter rejeitado inicialmente. Que diabo, uma conquista era sempre uma
vitória.


A casa de Jonas era um open space bastante caótico em Alcântara, que
refletia bem o estilo de vida dele. Havia pratos e copos sujos pelo chão,
garrafas de cerveja tombadas e cinzeiros cheios ao lado de um conjunto de
sofás de boa qualidade. Nas paredes de tijolos à vista estavam pendurados
vários discos de prata e de ouro emoldurados, resultantes das vendas dos seus
trabalhos anteriores, ao lado de cartazes que anunciavam diversos concertos
da sua banda e que davam a qualquer observador uma ideia do percurso do
grupo nos últimos anos. Num espaço autônomo, via-se uma coleção de
guitarras acústicas e elétricas, fios serpenteando pelo assoalho até a um
amplificador Marshall e dois pedestais de microfone. Um sintetizador, um
baixo, uma bateria e outros instrumentos de percussão completavam o local
do open space dedicado aos ensaios da banda. A casa de Jonas ficava num
antigo armazém que ele comprara e reformara, sendo o único morador no
edifício, o que lhe permitia juntar os músicos que o acompanhavam e ensaiar
a qualquer hora do dia sem reclamações dos vizinhos.


Jonas acordou já passava do meio-dia. O quarto, na realidade uma suíte
com o banheiro separado por uma frente envidraçada, era a única divisão
fechada do apartamento. Jonas arrastou-se da cama, onde deixou uma jovem
adormecida e nua debaixo dos lençóis, e foi, também nu, procurar um cigarro
por entre os destroços da noite anterior. Como só encontrou maços vazios,
recuperou uma bituca fumada pela metade de um dos cinzeiros esquecidos no
tapete entre os sofás. Em seguida, voltou ao quarto e entrou no banheiro, onde
ficou quase meia hora, entregue ao difícil exercício de fumar e tomar banho
ao mesmo tempo. Eram os primeiros dias de julho, particularmente quentes, e
Jonas abriu só a torneira da água fria para se refrescar e acabar de despertar. O
banho frio ajudou-o a emergir da modorra da pressão baixa, provocada pelo
calor do quarto abafado, e a aclarar as ideias, bastante ofuscadas por uma
noite de álcool, tabaco e haxixe em abundância. Vestiu uns jeans pretos
amarrotados, que apanhou do chão ao lado da cama, e uma camiseta cinzenta
lavada.


A   área    da  cozinha era reduzida,   embora  tivesse todos   os  eletrodomésticos
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