Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Catarina estava sentada numa esplanada no Guincho, debaixo de um toldo
enorme, aberto, não obstante era de noite, uma noite fresca e úmida. A certa
altura começou mesmo a chuviscar. Dentro do restaurante decorria uma festa,
mas apetecera-lhe ir lá fora tomar um pouco de ar, longe da algazarra dos
amigos, sair para fumar um cigarro em paz. Vestia um suéter de algodão bege
que a protegia do frio. Cruzou os braços para se sentir mais confortável. O seu
cabelo era uma agradável confusão de caracóis louros, tinha uma pele muito
branca, um rosto de uma beleza suave, olhos castanho-claros. Da varanda
sobre a praia, mal conseguia vislumbrar a espuma branca das ondas por entre
as sombras altas dos rochedos que se açoitavam na penumbra, mas ouvia-as
rebentar ao longe com grande ruído. As ondas desfaziam-se na praia a
intervalos constantes numa marulhada que deixava adivinhar um mar agitado.


Catarina surpreendeu-se ao pensar em Jonas, que, ultimamente, lhe enchia a
caixa de e-mail com mensagens, algumas bastante divertidas, tinha de admitir.
Ele não era daqueles que desistiam facilmente, e hoje ela se deixara levar pelo
impulso e lhe respondera, depois de quase duas semanas ignorando-o
ostensivamente. Era sexta-feira e Catarina estava na redação, prestes a sair
para o fim de semana, quando recebeu mais uma mensagem dele. ”Só para te
desejar um bom fim de semana, meu anjo”, dizia a mensagem. Vinha
acompanhada de uma música, Angel , de Jack Johnson. A mensagem pareceu-
lhe um pouco ridícula, mas ouviu a música e a achou simplesmente
encantadora. Não resistiu e respondeu, dizendo apenas que tinha adorado. Só
isto, sem mais, sem lhe dar a entender coisa nenhuma, sem o encorajar. Mas
ainda assim estabelecera contato, e agora mal podia esperar pela reação dele.
Mesmo sem querer admitr, havia algo em Jonas que a atraía. Alto, esguio,
sem um grama de gordura, cabelo comprido desgrenhado, rosto de linhas
harmoniosas, uma descrição que Catarina poderia resumir com as seguintes
palavras: é lindo de dar vontade de nos atirarmos para os seus braços e cobri-
lo de beijos, embora a sua personalidade fosse desconcertante, pairando entre
o rebelde e o pueril, que o tornava terrivelmente divertido. Se o conhecesse
melhor, saberia que ele conseguia ser bem menos encantador do que revelava
à primeira vista. Desde que o entrevistara, Jonas não tinha parado de insistir
em sair com ela e, embora tivesse sido inconveniente, ela não fora capaz de
manter durante muito tempo a pose distante e fria que assumira no início, ao
telefone. Claro que Jonas não sabia disso, pois Catarina não lhe respondia às

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