Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Jonas almoçou com o responsável pela comunicação com a imprensa da sua
editora, o qual se ocupava dos contatos com a televisão. Era um tipo jovem,
vestido informalmente, cujo trabalho consistia em agradar aos músicos e aos
responsáveis editoriais que decidiam se e quando faziam reportagens sobre as
estrelas que promoviam, gente sempre impaciente por aparecer na televisão,
que ele serenava com insuspeita mestria.


Foi um almoço tardio e demorado, que se prolongou pela tarde afora, numa
esplanada à beira-rio. O que tinham para falar não demorara mais de trinta
minutos, mas estava um sol maravilhoso e Jonas não tinha nada de especial
para fazer, de modo que ficaram por ali conversando. Jonas estava eloquente
e, como sempre, precisava de alguém que o ouvisse falar de si próprio, o seu
tema preferido. O jovem que o acompanhava sabia representar
admiravelmente o papel de bom amigo e nem por um segundo teve a fraqueza
de se mostrar enfadado ou consternado por deixar o trabalho esperando no
escritório. De fato, ele era o que Jonas tinha de mais parecido com um amigo,
alguém com quem se encontrava ocasionalmente e cujas conversas, em geral,
não ultrapassavam a superficialidade dos temas. Jonas não debatia assuntos
importantes; dizia que estava cagando para eles; tinha uma impressionante
coleção de botas, acumulava jeans e camisetas nos armários, tinha duas motos
top de linha na garagem e sabia tudo sobre música, um tópico sobre o qual o
seu companheiro de almoço – sempre oportuno – dava cartas, debitando
informações enciclopédicas sobre a matéria. O jovem era imbatível com
datas, nomes, acontecimentos e muitos outros fatos musicais sem qualquer
utilidade prática senão a de alimentar as conversas com a gente do meio, as
“estrelas” que ele aturava e não sabiam falar de mais nada.


Quem conhecia a figura pública tinha decerto a convicção de que Jonas era
pessoa de muitos amigos. De trato fácil, encantador, famoso, adorado pela sua
música e pela sua beleza, enfim, aparentemente reunia todos os ingredientes
para colecionar amizades. Mas a realidade era bastante diferente, pois Jonas
não era tão afável quando as luzes se apagavam e cessava a obrigação
profissional de espalhar charme e sorrisos. Porventura, a educação
condescendente que tivera quando criança havia contribuído para a sua
personalidade egocêntrica. Os pais, separados desde que ele era pequeno,
cobriam-no de atenções e satisfaziam os seus desejos mais insólitos para

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