Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

compensá-lo das suas ausências. Jonas crescera com a vida facilitada e sem
nunca ter chegado a apreender o verdadeiro valor de ser amado. Ele não se
empenhava nas relações, quer com homens quer com mulheres, bastava-lhe
ter gente à sua volta, ser acarinhado, ser o centro das atenções, e isso,
evidentemente, não lhe faltava. Os amigos, tal como as mulheres, eram
ocasionais, por épocas, e perfeitamente descartáveis. No caso das mulheres,
cortejava-as com uma graça e uma dedicação inesgotáveis, mas quando o
entusiasmo inicial passava e começava a se aborrecer, Jonas largava-as e
pronto. Assim, como garantia a uma namorada, dizia que a amava com os
olhos brilhando de emoção, também a deixava no dia seguinte sem que isso
lhe tirasse o sono. Além das conquistas eventuais, Jonas pulava de namorada
em namorada, e acontecia com frequência já estar com a próxima e ainda em
vias de se desfazer da anterior com as condolências da praxe. Se elas
insistiam, tratava-as com indiferença, se sofriam com isso, desvalorizava-lhes
o desgosto com uma piada ligeira. Desmotivava-as até se darem por vencidas
e desistirem de incomodá-lo. Era, enfim, como diria qualquer mulher
inteligente, um tipo que não prestava, um bom sacana, do qual convinha
manter distância, se não fosse quem era, evidentemente.


Debaixo do sorriso sedutor havia um homem que não caminhava pela rua tão
seguro e tranquilo quanto a pose descontraída parecia indicar. Os êxitos
musicais seguidos, os números de vendas, os concertos esgotados, a televisão
e a rádio, o reconhecimento popular, as fãs irredutíveis, nada disso o mantinha
a salvo de se despencar subitamente do auge da autoestima e mergulhar na
insegurança da pessoa vulgar que receia o dia de amanhã. Também ele temia
o fracasso e a solidão que daí pudesse advir. Os pais estavam velhos, a família
que ele negligenciara resumia-se a uns quantos primos dispersos por outras
vidas, e Jonas precisava muito cercar-se de pessoas para não tropeçar e cair
nos braços dos seus demônios.


Jonas era dado a humores volúveis, sorria com a mesma facilidade com que
insultava, acometido de fúrias caprichosas. Tinha um espírito frio, inteligente,
calculista, e não se motivava com palmadinhas nas costas ou elogios sinceros.
O que o tornava de fato combativo, capaz de virar a mesa para alcançar um
objetivo, era o desdém. Não suportava que lhe dissessem que não estava à
altura, que ia falhar; não se submetia à derrota, não perdoava quem o tratava
mal – embora tratasse mal muita gente –, não aceitava a rejeição. Por isso o
desinteresse de Catarina lhe despertou os sentidos e a vontade irreprimível de
seduzi-la, de conquistá-la.

Free download pdf