Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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A mensagem, estranha, enigmática, caiu na caixa de entrada de e-mails. Dizia
apenas “tenho uma notícia para você, um furo exclusivo. Venha me encontrar
agora.” E indicava um determinado local numa rua próxima. Catarina não
reconheceu o remetente, que dava pelo disparatado nome de amigo secreto.
Uma idiotice qualquer de alguém a meter-se com ela, presumiu. Apagou a
mensagem e voltou ao que estava fazendo. Mas uma inspiração súbita levou-a
a recuperar a mensagem rejeitada. Leu-a de novo, mais devagar, analisando-a
melhor, como se a prosa anônima, sucinta e crua, tivesse muitos ângulos por
onde pegar. Com efeito, era só uma questão de entender de quem vinha para
saber se merecia o crédito de uma verdadeira fonte ou se, pelo contrário,
aquilo não passava de lixo electrônico. Mas o que a prendeu ao mistério foi o
seu estado de ansiedade, que crescia com a falta de notícias de Jonas.
Perguntou-se se a mensagem seria dele. Ele decidira ignorá-la definitivamente
ou, pelo contrário, testava a sua sagacidade com um enigma? E, se assim
fosse, deveria fazer a concessão de pactuar com a sua brincadeira ou manter-
se sem reação, num silêncio imperturbável, até ele se render com uma
mensagem com nome próprio? Que fazer? Coçou a cabeça, esfregou o rosto,
ponderou, incomodada com a dúvida, até decidir que aquilo não tinha pé nem
cabeça e, portanto, não lhe daria importância. “Cresce, menino”, pensou,
voltando a apagar a mensagem.


Mas nem dez minutos passaram e já Catarina voava de carteira na mão por
entre o labirinto das mesas em direção à porta de saída da redação, traída pela
curiosidade, incapaz de continuar trabalhando com aquela inquietação que a
incomodava.

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